domingo, dezembro 31, 2006

Novo Ano

No som oco das rolhas voadoras de espumante
Abafo as boas e as más recordações do ano que passou.
Prefiro, optimista, olhar para o tempo que adiante
Me reserva as surpresas que o passado não proporcionou.

Um Bom e Feliz Ano de 2007! Bem precisamos!

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Natal (2006 d.C.)

Caríssimos(as),

Mais um Natal. Mais uma volta na roleta do tempo. Esse que estamos habituados a contar a partir do nascimento de Cristo.

Como eu tenho uma fé absolutamente inabalável no meu agnosticismo, devem entender que não é a comemoração de um nascimento em si mas o espírito desse nascimento e o que ele deveria trazer ao mundo o que me motiva a comemorar esta quadra.

Também se cresce com o Natal. O Natal dos pequeninos é diferente do Natal dos graúdos. São outras as maravilhas. Vai-se perdendo a magia. Talvez se ganhe em reflexão sobre a quadra, se o quisermos.

Enfim, resumidamente, gostaria de deixar a todos os que por aqui passam os votos de um Feliz Natal, coerente com o que cada um acredite e rodeado dos seus mais queridos! O raio da neve é que não vem...até nos Pirinéus a coisa tá fraca...:)

Do vosso Calvin,
Ho Ho Ho!

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Prometheus

São coisas pequenas, singelas
Detalhes que nos fazem pensar.
Uma gota de chuva na janela,
Uma nuvem no céu,
Uma estrela a brilhar.

São coisas divinas, baratas
Amostras de vida que nos fazem parar.
Um sorriso na boca de uma criança,
Um chocolate quente à chuva,
Uma castanha a estalar.

São coisas tangíveis, sensatas
Fotos do dia que nos fazem sonhar.
O perfume da mulher que passa,
A música no ritmo do rádio,
A linha distante do horizonte no mar.

São coisas que não tenho e que em mim trago,
Por ser este frio pensar que em lume se tornou.
Em querendo agarrá-las, a chama apago.
Não tendo este fogo, não sei o que sou.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Contrastes e regressos


Venho de um país onde os transportes públicos funcionam mas onde toda a gente também se queixa.
Venho de uma cidade onde também se fica parado em horas de filas intermináveis, nas lojas, nas estradas, em tudo.
Venho de uma rua alimentada a crédito que, de tão cheia de consumismo natalício, tem de ser fechada ao trânsito.
Venho de uma capital onde se abrem túneis de metropolitano à noite para que o dia não encontre cadáveres sem-abrigo.
Venho de um céu que sabe soprar gelo e que é demasiadamente noite durante o curto dia.

Chego a um país onde o inverno é suportável pela alma.
Chego a um aeroporto onde ainda não nos tratam como terroristas.
Chego a um restaurante onde a comida sabe a comida e onde, mesmo sem se ser rico, é possivel pagar a conta.
Chego a um rio que tem cor de água e que sabe correr bem, porque o mar está perto.
Chego a minha casa.

Regresso ao meu país.

Gosto dele, mesmo que não seja do “primeiro mundo” como o outro.

Porque não pode ele ser desse mundo sendo também como é?

Deve ser por andar ao contrário do outro, em faixa contrária. Mas é que é mesmo por isso. De certeza. Andamos todos, nós e eles, ao contrário. Não os países, as pessoas...

(foto gentilmente cedida pela máquina fotográfica de pilhas recarregáveis do Agridoce)

quarta-feira, dezembro 06, 2006

London...revisited (once again)

Estarei em terras de Sua Majestade por uns dias. É claro que vou sem licença para matar e sem um Aston Martin cheio de gadgets, mas prometo beber uns Vodka Martini por todos vocês...ou há falta disso, uns single malt dos teimosos tipos da Escócia! Ah...e a Bond Girl já vai comigo, hehehe!

A minha distância cá do burgo talvez refreie a escrita aqui no blog (que não no caderno de papel). Mas vocês precisam de férias de mim...quase tanto como eu!

Abraços e beijinhos...mas cada um a cada qual

Pedalando no tempo (III)

(continuação de)

Os fios de fumo de lenha das lareiras e fogões da vila ascendiam ao mundo das nuvens, essas fumaças eternas que ensinaram à água como se voa. Dançando ao som dos ventos suaves do vale matinal, despediam-se gaiteiros do “Mil à Hora”, enquanto este voltava aos pedais desencontrados da sua bicicleta.

Para que sejam úteis, têm os pedais de andar às avessas um com o outro. Estica-se um deles num breve momento cimeiro enquanto o outro enterra-se num esforço descendente. Mesmo quando se encontram ao mesmo nível, apontam direcções diferentes. Ora que um olha esforçado para a frente enquanto o outro espreguiça o caminho que ficou para trás. Nunca se chegam a encontrar e nenhum serviria o seu propósito sem o outro, o seu oposto. É a única forma de colocar a bicicleta em movimento, por oposição. Também são assim alguns homens que, nunca se encontrando, vão esforçando o caminho numa mesma direcção, deixando como legado mais uma pedalada no trilho que o Destino vai desenhando nas subidas do Tempo.

Pensava nisto o jovem ciclista e comerciante, enquanto misturava o cheiro da urze com as suas reflexões. Os artefactos de ouro que transportava e que tantas pedaladas já tinham feito, mesmo antes dele lhes emprestar esta derradeira viagem na montanha, eram também legados de um destino traçado há muito. Era esse mesmo ouro que era brutamente extraído lá longe, em terras africanas, por mineiros enlameados que conheciam o cheiro verdadeiro da terra. Era esse que se via transportado nos grandes navios das fotos dos jornais, que partiam de mares remotos nos largos acenos dos marinheiros e chegavam em apertos curtos na estiva do rio. Era esse o mesmo que voltava a nascer quando trabalhado em oficinas nobres de mestres joalheiros e ourives da região. Esses artesãos, seres nascidos de monóculo feito olho, vislumbravam as filigranas dos dias com as suas habilidosas mãos e esculpiam nos indistintos bocados de minério a forma artística que o mundo teria se fosse um apetrecho de pendurar ao pescoço.

A semana prometia deixar como legado visitas a cinco destinos e uns tantos, muitos, quilómetros de solidão. Não prometendo, dava a esperança de se vender mercadoria e fazer negócio. Esperança de ser compra amorosa e de impulso. Esperança de celebrar o nascimento de mais uma alma disposta a trepar a escada da vida ou de comemorar o aniversário de alguém que tivesse subido mais um degrau dessa escadaria. Com muita sorte, chegaria a tempo da decisão de uma subida a dois e talvez até encontrasse um casamento. Ou um baptizado, onde os padrinhos quisessem dourar a subida prometida ao reino dos céus com ofertas que tivessem subido da vila à montanha numa bicicleta. Por alguma razão não totalmente entendida, o ouro e as jóias eram o presente mais previsível para marcar todos estes acontecimentos. Coisas incompreensíveis mas não desconhecidas do género humano.

De quando em quando, acontecia que alguém tivesse atingido o fim da escadaria e se tivesse precipitado para o além. Seja o termo “além” o que pense de diferente cada um de nós, sendo certo que, o que for, será igual para todos. A morte é um gume que cerceia aos vivos o gosto de dar, por não haver a quem oferecer. Pelo contrário, provoca nos mortos uma irrevogável generosidade e, partindo, distribuem os seus pertences terrenos aos futuros defuntos, incluíndo as jóias e o ouro. Em acontecendo estar de visita a uma aldeia após tão funesto acontecimento, não raras vezes se via o “Mil à Hora” no papel de avaliador e comprador desses despojos. Na vila, talvez conseguisse um melhor preço por eles.

Era assim que a fortuna dos acontecimentos em vida de uns e a falta da mesma na morte de outros, sendo opostos em qualidade, funcionavam como os pedais que moviam o pequeno ganha-pão do “Mil à Hora”, ajudando-o a subir a sua escadaria da vida. Uma escadaria em que os degraus da semana eram pedalados com esforço e trilhados com determinação por entre caminhos montanhosos, abrigados sob o céu caprichoso das estações, numa rotação de dias e noites. Dias duros em que apetecia viver. Noites solitárias em que era fácil sonhar.

(enquanto a inspiração e a motivação durar, continuará...)

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Ode à ira da Paz

Ah! Não quero falas-matracas,
Feitas de verbos sebosos.
Espetados, seriam estacas.
Afiados, seriam facas.
Apenas ditos, são nervosos.

Oh! Não quero vis ameaças!
Quero feridas e estilhaços,
Febres, vermes, carraças,
Explosões, dor e desgraças,
Mil corpos em mil pedaços.

Ah! Não quero Paz, quero Guerra!
A minha Paz já está farta.
Farta de ver comer terra,
Com fome de ver a Guerra
Chorar pelo que a Paz lhe mata.

Sejam espadas e espingardas
Sejam estocada e fogo pesado
E tornem a virtude em pecado.


Que as almas lhes sejam malvadas,
Néscias, loucas, prostradas,

Perdidas, inférteis, sem fado.

sábado, dezembro 02, 2006

Pedalando no tempo (II)

(continuação de)

A vila já se antevia por entre os sumptuosos castanheiros. Os raios de sol que os acobreavam, numa moldura de luxo matinal, noticiavam que esta acordava. Não eram só os raios. A passarada também avisava, voando e poisando nos ramos das árvores que torneavam o trilho da montanha para a vila. Na direcção oposta, em direcção ao horizonte, voavam os cabos do telégrafo, acompanhando a estrada asfaltada e tiritando notícias que mantinham este ponto do mundo ligado ao novelo da actualidade. Das montanhas não existia fio para esse novelo. Bastavam-se na sua própria actualidade, tal como todos os que lá viviam.
Ao fundo da encosta, entre o casario de pedra pontilhado aqui e acolá de casas pintadas, abria-se uma clareira. A praça da vila era um espaço onde confluíam pequenas artérias desenhadas de mão livre, arrastando ruas de granito. Tinha como esquadria uma linha de edifícios baixos onde, quase sem excepção, o piso térreo era ocupado por comércio. No centro, um pequeno monumento comemorava uma qualquer efeméride da terra, com dois homens fardados olhando para a direcção da igreja, num dos topos. No outro topo, um fontanário chorava água nascida na montanha para matar a sede das casas cá em baixo.
Entre as pessoas que chegavam à praça, entre aqueles que vinham trabalhar e aqueles que se vinham fornecer, chega uma bicicleta pasteleira acostumada a estas paisagens. Todas as semanas, às segundas-feiras pela manhã, era esse o destino do “Mil à Hora”. Mais concretamente a ourivesaria do “Marialva”, esse personagem deslocado das lezírias para os montes mas que mantinha os arrozais nos seus olhos azuis, infinitos como a água que dorme a espelhar o rio no céu. Com os seus setenta anos de idade, era um homem que oferecia à sua experiência de vida a mesma genica que as crianças oferecem a uma primeira brincadeira. Existiu, entre o “Marialva” e o “Mil à Hora”, aquela empatia típica das almas irmãs mas não gémeas desde o momento em que se conheceram. Movia-os o negócio e a vida. Encontravam-se no estabelecimento antes deste abrir portas e iam à taberna que ficava duas portas ao lado para beber uma xícara de café ou de cevada fumegante com broa de milho ainda morna. Era no “mata-bicho” que se ultimavam preços e mercadorias. O “Marialva” deixava levar à consignação um quinhão de peças de ouro para serem vendidas de aldeia em aldeia, durante a semana. Cobrava um preço de amigo que permitia ao “Mil à Hora” acrescentar uma margem negocial para pagar as pedaladas e o tempo que passava por fora, na venda. O fecho de contas era feito no sábado, voltando à mesma xícara. Um pagava a mercadoria que havia vendido e entregava a que não tinha tido saída. O outro recebia e pagava a refeição, dizendo umas palavras de encorajamento ao negócio. Que o negócio estava difícil, como sempre esteve e sempre estará. Eram conversas tidas com o mesmo ritmo com que se pedalava, na sofreguidão de tempo de que ambos padeciam. Quem os ouvisse, eram como dois cavaquinhos a tocar na praça, abreviando naquela meia hora as pautas de negócio que regiam a orquestração da música da semana.
Lá fora, nos montes, os pássaros continuavam a voar sobre os castanheiros indo mais além, onde os pinheiros esticavam os seus braços às nuvens, sem as agarrar. O som da praça, que a esta hora já fervilhava de gente, ainda conseguia subir esses primeiros arvoredos. Mas quando os montes se transformavam em montanhas, estas eram uma praça de pedras e arbustos, com uma ou outra árvore solitária, onde apenas se ouvia o som do vento e da água que corria sem precisar de fontanários. Não era necessário fervilhar por ser início de semana. Afinal, nem a Montanha nem o Tempo sabem o que isso é.

(quiçá, ainda continue...)

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Coisas fugazes

-Olá, tudo bem?
-Sim.
-Só sim? Não!
-Porque não?
-Porque sim...
-Pois sim...

Foi como se, tendo-se visto, não se tivessem encontrado...