domingo, dezembro 31, 2006

Novo Ano

No som oco das rolhas voadoras de espumante
Abafo as boas e as más recordações do ano que passou.
Prefiro, optimista, olhar para o tempo que adiante
Me reserva as surpresas que o passado não proporcionou.

Um Bom e Feliz Ano de 2007! Bem precisamos!

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Natal (2006 d.C.)

Caríssimos(as),

Mais um Natal. Mais uma volta na roleta do tempo. Esse que estamos habituados a contar a partir do nascimento de Cristo.

Como eu tenho uma fé absolutamente inabalável no meu agnosticismo, devem entender que não é a comemoração de um nascimento em si mas o espírito desse nascimento e o que ele deveria trazer ao mundo o que me motiva a comemorar esta quadra.

Também se cresce com o Natal. O Natal dos pequeninos é diferente do Natal dos graúdos. São outras as maravilhas. Vai-se perdendo a magia. Talvez se ganhe em reflexão sobre a quadra, se o quisermos.

Enfim, resumidamente, gostaria de deixar a todos os que por aqui passam os votos de um Feliz Natal, coerente com o que cada um acredite e rodeado dos seus mais queridos! O raio da neve é que não vem...até nos Pirinéus a coisa tá fraca...:)

Do vosso Calvin,
Ho Ho Ho!

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Prometheus

São coisas pequenas, singelas
Detalhes que nos fazem pensar.
Uma gota de chuva na janela,
Uma nuvem no céu,
Uma estrela a brilhar.

São coisas divinas, baratas
Amostras de vida que nos fazem parar.
Um sorriso na boca de uma criança,
Um chocolate quente à chuva,
Uma castanha a estalar.

São coisas tangíveis, sensatas
Fotos do dia que nos fazem sonhar.
O perfume da mulher que passa,
A música no ritmo do rádio,
A linha distante do horizonte no mar.

São coisas que não tenho e que em mim trago,
Por ser este frio pensar que em lume se tornou.
Em querendo agarrá-las, a chama apago.
Não tendo este fogo, não sei o que sou.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Contrastes e regressos


Venho de um país onde os transportes públicos funcionam mas onde toda a gente também se queixa.
Venho de uma cidade onde também se fica parado em horas de filas intermináveis, nas lojas, nas estradas, em tudo.
Venho de uma rua alimentada a crédito que, de tão cheia de consumismo natalício, tem de ser fechada ao trânsito.
Venho de uma capital onde se abrem túneis de metropolitano à noite para que o dia não encontre cadáveres sem-abrigo.
Venho de um céu que sabe soprar gelo e que é demasiadamente noite durante o curto dia.

Chego a um país onde o inverno é suportável pela alma.
Chego a um aeroporto onde ainda não nos tratam como terroristas.
Chego a um restaurante onde a comida sabe a comida e onde, mesmo sem se ser rico, é possivel pagar a conta.
Chego a um rio que tem cor de água e que sabe correr bem, porque o mar está perto.
Chego a minha casa.

Regresso ao meu país.

Gosto dele, mesmo que não seja do “primeiro mundo” como o outro.

Porque não pode ele ser desse mundo sendo também como é?

Deve ser por andar ao contrário do outro, em faixa contrária. Mas é que é mesmo por isso. De certeza. Andamos todos, nós e eles, ao contrário. Não os países, as pessoas...

(foto gentilmente cedida pela máquina fotográfica de pilhas recarregáveis do Agridoce)

quarta-feira, dezembro 06, 2006

London...revisited (once again)

Estarei em terras de Sua Majestade por uns dias. É claro que vou sem licença para matar e sem um Aston Martin cheio de gadgets, mas prometo beber uns Vodka Martini por todos vocês...ou há falta disso, uns single malt dos teimosos tipos da Escócia! Ah...e a Bond Girl já vai comigo, hehehe!

A minha distância cá do burgo talvez refreie a escrita aqui no blog (que não no caderno de papel). Mas vocês precisam de férias de mim...quase tanto como eu!

Abraços e beijinhos...mas cada um a cada qual

Pedalando no tempo (III)

(continuação de)

Os fios de fumo de lenha das lareiras e fogões da vila ascendiam ao mundo das nuvens, essas fumaças eternas que ensinaram à água como se voa. Dançando ao som dos ventos suaves do vale matinal, despediam-se gaiteiros do “Mil à Hora”, enquanto este voltava aos pedais desencontrados da sua bicicleta.

Para que sejam úteis, têm os pedais de andar às avessas um com o outro. Estica-se um deles num breve momento cimeiro enquanto o outro enterra-se num esforço descendente. Mesmo quando se encontram ao mesmo nível, apontam direcções diferentes. Ora que um olha esforçado para a frente enquanto o outro espreguiça o caminho que ficou para trás. Nunca se chegam a encontrar e nenhum serviria o seu propósito sem o outro, o seu oposto. É a única forma de colocar a bicicleta em movimento, por oposição. Também são assim alguns homens que, nunca se encontrando, vão esforçando o caminho numa mesma direcção, deixando como legado mais uma pedalada no trilho que o Destino vai desenhando nas subidas do Tempo.

Pensava nisto o jovem ciclista e comerciante, enquanto misturava o cheiro da urze com as suas reflexões. Os artefactos de ouro que transportava e que tantas pedaladas já tinham feito, mesmo antes dele lhes emprestar esta derradeira viagem na montanha, eram também legados de um destino traçado há muito. Era esse mesmo ouro que era brutamente extraído lá longe, em terras africanas, por mineiros enlameados que conheciam o cheiro verdadeiro da terra. Era esse que se via transportado nos grandes navios das fotos dos jornais, que partiam de mares remotos nos largos acenos dos marinheiros e chegavam em apertos curtos na estiva do rio. Era esse o mesmo que voltava a nascer quando trabalhado em oficinas nobres de mestres joalheiros e ourives da região. Esses artesãos, seres nascidos de monóculo feito olho, vislumbravam as filigranas dos dias com as suas habilidosas mãos e esculpiam nos indistintos bocados de minério a forma artística que o mundo teria se fosse um apetrecho de pendurar ao pescoço.

A semana prometia deixar como legado visitas a cinco destinos e uns tantos, muitos, quilómetros de solidão. Não prometendo, dava a esperança de se vender mercadoria e fazer negócio. Esperança de ser compra amorosa e de impulso. Esperança de celebrar o nascimento de mais uma alma disposta a trepar a escada da vida ou de comemorar o aniversário de alguém que tivesse subido mais um degrau dessa escadaria. Com muita sorte, chegaria a tempo da decisão de uma subida a dois e talvez até encontrasse um casamento. Ou um baptizado, onde os padrinhos quisessem dourar a subida prometida ao reino dos céus com ofertas que tivessem subido da vila à montanha numa bicicleta. Por alguma razão não totalmente entendida, o ouro e as jóias eram o presente mais previsível para marcar todos estes acontecimentos. Coisas incompreensíveis mas não desconhecidas do género humano.

De quando em quando, acontecia que alguém tivesse atingido o fim da escadaria e se tivesse precipitado para o além. Seja o termo “além” o que pense de diferente cada um de nós, sendo certo que, o que for, será igual para todos. A morte é um gume que cerceia aos vivos o gosto de dar, por não haver a quem oferecer. Pelo contrário, provoca nos mortos uma irrevogável generosidade e, partindo, distribuem os seus pertences terrenos aos futuros defuntos, incluíndo as jóias e o ouro. Em acontecendo estar de visita a uma aldeia após tão funesto acontecimento, não raras vezes se via o “Mil à Hora” no papel de avaliador e comprador desses despojos. Na vila, talvez conseguisse um melhor preço por eles.

Era assim que a fortuna dos acontecimentos em vida de uns e a falta da mesma na morte de outros, sendo opostos em qualidade, funcionavam como os pedais que moviam o pequeno ganha-pão do “Mil à Hora”, ajudando-o a subir a sua escadaria da vida. Uma escadaria em que os degraus da semana eram pedalados com esforço e trilhados com determinação por entre caminhos montanhosos, abrigados sob o céu caprichoso das estações, numa rotação de dias e noites. Dias duros em que apetecia viver. Noites solitárias em que era fácil sonhar.

(enquanto a inspiração e a motivação durar, continuará...)

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Ode à ira da Paz

Ah! Não quero falas-matracas,
Feitas de verbos sebosos.
Espetados, seriam estacas.
Afiados, seriam facas.
Apenas ditos, são nervosos.

Oh! Não quero vis ameaças!
Quero feridas e estilhaços,
Febres, vermes, carraças,
Explosões, dor e desgraças,
Mil corpos em mil pedaços.

Ah! Não quero Paz, quero Guerra!
A minha Paz já está farta.
Farta de ver comer terra,
Com fome de ver a Guerra
Chorar pelo que a Paz lhe mata.

Sejam espadas e espingardas
Sejam estocada e fogo pesado
E tornem a virtude em pecado.


Que as almas lhes sejam malvadas,
Néscias, loucas, prostradas,

Perdidas, inférteis, sem fado.

sábado, dezembro 02, 2006

Pedalando no tempo (II)

(continuação de)

A vila já se antevia por entre os sumptuosos castanheiros. Os raios de sol que os acobreavam, numa moldura de luxo matinal, noticiavam que esta acordava. Não eram só os raios. A passarada também avisava, voando e poisando nos ramos das árvores que torneavam o trilho da montanha para a vila. Na direcção oposta, em direcção ao horizonte, voavam os cabos do telégrafo, acompanhando a estrada asfaltada e tiritando notícias que mantinham este ponto do mundo ligado ao novelo da actualidade. Das montanhas não existia fio para esse novelo. Bastavam-se na sua própria actualidade, tal como todos os que lá viviam.
Ao fundo da encosta, entre o casario de pedra pontilhado aqui e acolá de casas pintadas, abria-se uma clareira. A praça da vila era um espaço onde confluíam pequenas artérias desenhadas de mão livre, arrastando ruas de granito. Tinha como esquadria uma linha de edifícios baixos onde, quase sem excepção, o piso térreo era ocupado por comércio. No centro, um pequeno monumento comemorava uma qualquer efeméride da terra, com dois homens fardados olhando para a direcção da igreja, num dos topos. No outro topo, um fontanário chorava água nascida na montanha para matar a sede das casas cá em baixo.
Entre as pessoas que chegavam à praça, entre aqueles que vinham trabalhar e aqueles que se vinham fornecer, chega uma bicicleta pasteleira acostumada a estas paisagens. Todas as semanas, às segundas-feiras pela manhã, era esse o destino do “Mil à Hora”. Mais concretamente a ourivesaria do “Marialva”, esse personagem deslocado das lezírias para os montes mas que mantinha os arrozais nos seus olhos azuis, infinitos como a água que dorme a espelhar o rio no céu. Com os seus setenta anos de idade, era um homem que oferecia à sua experiência de vida a mesma genica que as crianças oferecem a uma primeira brincadeira. Existiu, entre o “Marialva” e o “Mil à Hora”, aquela empatia típica das almas irmãs mas não gémeas desde o momento em que se conheceram. Movia-os o negócio e a vida. Encontravam-se no estabelecimento antes deste abrir portas e iam à taberna que ficava duas portas ao lado para beber uma xícara de café ou de cevada fumegante com broa de milho ainda morna. Era no “mata-bicho” que se ultimavam preços e mercadorias. O “Marialva” deixava levar à consignação um quinhão de peças de ouro para serem vendidas de aldeia em aldeia, durante a semana. Cobrava um preço de amigo que permitia ao “Mil à Hora” acrescentar uma margem negocial para pagar as pedaladas e o tempo que passava por fora, na venda. O fecho de contas era feito no sábado, voltando à mesma xícara. Um pagava a mercadoria que havia vendido e entregava a que não tinha tido saída. O outro recebia e pagava a refeição, dizendo umas palavras de encorajamento ao negócio. Que o negócio estava difícil, como sempre esteve e sempre estará. Eram conversas tidas com o mesmo ritmo com que se pedalava, na sofreguidão de tempo de que ambos padeciam. Quem os ouvisse, eram como dois cavaquinhos a tocar na praça, abreviando naquela meia hora as pautas de negócio que regiam a orquestração da música da semana.
Lá fora, nos montes, os pássaros continuavam a voar sobre os castanheiros indo mais além, onde os pinheiros esticavam os seus braços às nuvens, sem as agarrar. O som da praça, que a esta hora já fervilhava de gente, ainda conseguia subir esses primeiros arvoredos. Mas quando os montes se transformavam em montanhas, estas eram uma praça de pedras e arbustos, com uma ou outra árvore solitária, onde apenas se ouvia o som do vento e da água que corria sem precisar de fontanários. Não era necessário fervilhar por ser início de semana. Afinal, nem a Montanha nem o Tempo sabem o que isso é.

(quiçá, ainda continue...)

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Coisas fugazes

-Olá, tudo bem?
-Sim.
-Só sim? Não!
-Porque não?
-Porque sim...
-Pois sim...

Foi como se, tendo-se visto, não se tivessem encontrado...

quarta-feira, novembro 29, 2006

Chain-Post

Dou comigo a voltar, pela última vez este ano, a aceitar convites de “chain-post”. A verdade é que não resisto às latidelas simpáticas do Rafeiro Perfumado. Meu caro, digo presente! E aqui vai:

1 - ALTURA:
Depende do momento. Umas vezes chego até à Lua, noutras nem chego a sair do chão...

2 - QUE SAPATOS ESTÁS A USAR?
No pé direito, uns ténis de corrida com sola de borracha sintética.
No pé esquerdo, umas pantufas de pele natural de ovelha.
No fundo, estou pronto para ir dormir rápido.

3 - MEDO?
De um dia não ter receio de nada.

4 - OBJECTIVOS A ALCANÇAR:
Conhecer o tipo que inventou o romantismo de um pequeno almoço na cama...mas disto já falei eu antes...:)

5 - FRASE QUE MAIS USAS NO MESSENGER?
Não chega a ser uma frase...é uma espécie de abreviatura emocional...está na moda chamar-se smiley :)

6 - MELHOR PARTE DO CORPO?
Eu sou mais do tipo que gosta da parte da perna, ao contrário daqueles que preferem o peito. A mim parece-me que o peito é mais seco, fica-se com menos sabor. A perna mantém a textura e a humidade da molhanga...err...o quê? Não era para dizer a parte do frango de que se mais gosta???

7 - PALAVRÕES?
Sim. Muitos, para dentro ou entre amigos. Purgam a fala!

8 - LADO DA CAMA?
Não, obrigado. Sempre achei que dormir em cima é melhor que no lado. E nunca por debaixo, escondido como o tipo da foto do blog da Aninhas..irra...

9 - TOMAS BANHO TODOS OS DIAS?
Sempre...e levo banhadas muitos dias também!:)

10 - GOSTAS DE TOALHAS QUENTES?
Todas menos aquelas que nos dão em restaurantes chineses e nos aviões, húmidas e a ferver.

11 - URSINHOS DE PELÚCIA?
Ursinhos de quê???

12 - ACREDITAS EM TI MESMO?
Digo todos os dias a mim próprio para não acreditar. E consigo convencer-me!:)

13 - DÁS-TE BEM COM OS TEUS PAIS?
Damo-nos bem, até nas discussões. Beijocas para eles!

14 - GOSTAS DE TEMPESTADES?
Desde que não me apanhem a mais de 3 milhas dentro do Atlântico num barco de 35 pés, adoro. Fico hipnotizado de forma infantil com um espectáculo de relâmpagos!

15 - DESPORTO?
Ginástica acrobática quando era puto (em que outra idade nos podemos partir todos a rir?), vela sempre que possa (e não tenho podido), mergulho nas férias (que a água aqui é fria e turva), ski (enquanto houver encostas para descer), squash (quando o meu joelho melhorar)

16 - PASSATEMPOS E HOBBIES?
Não separo as coisas nessas categorias...faço coisas...tipo cenas, tás a ver, ó meu?:)

17 - FOBIAS E MANIAS?
Esta pergunta é um “dejá vu”.
Já agora, sabem o que é o contrário de um “dejá vu”? É um “vujá de”, aquela sensação que se tem quando nunca se viu aquilo que se está a ver.:)

18 - QUANTAS VEZES O TEU NOME JÁ APARECEU NOS JORNAIS?
Se responder literalmente, aposto que já deve ter aparecido uns milhões de vezes. Poucas vezes referindo-se à minha pessoa!:)

19 - CICATRIZES NO CORPO?
Tenho uma na perna de uma emboscada na Guiné, outra no braço de uma queda de páraquedas nos montes do Kosovo, mais uma na nádega por causa da invasão do Iraque...mas essa foi por ter batido no canto da mesa a rir com as provas de “armas de destruição massiva” apresentadas pelo Colin Powell no Conselho das Nações Unidas.

20 - DE QUE TE ARREPENDES DE TER FEITO?
Se calhar, este questionário...vamos a ver.

21 - COR FAVORITA?
Eu tenho apenas uma cor no coração: o Vermelho e Branco!:)

22 - UM LUGAR ONDE NUNCA ESTIVESTE E GOSTAVAS DE IR?
Epá...não tenho teclado nem dedos para escrever a resposta completa...

23 - MANHÃS OU NOITES?
Pela noite dentro e manhã fora!

24 - O QUE TENS NOS BOLSOS?
Um bolso cheio de nada e outro vazio de tudo.

25 - QUE FARIAS SE FOSSES PRIMEIRO-MINISTRO?
Pagava a alguém para responder a isto e vendia sob um título biográfico. E depois ria-me...muito...
(num registo sério, tomava 3 medidas muito simplex: pagamento do IVA com recibo em vez de factura, metia o Estado a pagar a horas aos seus fornecedores, pagava aos trabalhadores apenas 12 meses por ano e acabava com o subsídio de Natal e Férias!)

26 - SE GANHASSES O EUROMILHÕES QUE FARIAS AO DINHEIRO?
Tornava-me um homem santo e concorria a primeiro-ministro! Mas acho que deve ser impossível acumular...:)

27 - SE TE CAÍSSE NAS MÃOS A LÂMPADA DE ALADINO O QUE FARIAS? QUE DESEJOS PEDIRIAS?
Pedia para ganhar o Euromilhões, ser Primeiro-Ministro e arranjar alguém que respondesse a isto por mim.

28 - SE O MUNDO ACABASSE HOJE ÀS 23h59m QUE FARIAS ATÉ LÁ?
Sei o que não faria...isso é uma dica? Fui!

29 - SE TIVESSES UM FILHO SEM SABER COMO, SEM RAZÃO NENHUMA, QUE FARIAS?
A genética não me permite ter filhos. Falta-me uma pernita do segundo X.:)


Como este desafio não vem acompanhado de punição em caso de não se passar a carraça a outros bloggers, vou poupar-vos! É que fica já aqui e nem mexe.

terça-feira, novembro 28, 2006

Pedalando no Tempo (I)


Chamavam-lhe o “Mil à Hora” pela sua azáfama no respirar, no olhar, no fazer. Era um jovem que não tinha tempo a perder. Um tempo que lhe parecia sobejar menos a ele que aos outros. Esse tempo que não era muito. Nunca é. E teima em estar sempre a fugir desse outro tempo que é uma vida.
Ao começar da semana, quando os primeiros raios de alvor pincelavam o céu ruborizados, talvez pelos pecados da noite que passara, o “Mil à Hora” já estava pronto a sair em direcção à vila, na sua bicicleta pasteleira. Tinha sido comprada em segunda mão com os trocos desavindos de dias de poupança com sabor a fome. Dias onde o pós-guerra e um país mirrado e solitário deixavam a lição analfabeta e dura de que a riqueza só se cria poupando. O caminho que rondava o amontoado de casas em que se albergavam uma dúzia de almas dos rigores do tempo, estreitava em direcção ao ribeiro. Tinha a largura suficiente para passar uma junta de bois, mastigada nos extremos com precaução para não cair às águas num dos lados ou entalar o eixo da roda nos ramos baixos das árvores do outro. Era esse o portão de entrada para a aldeia. Ladeado com cabelos de junco e uma textura de casca de árvore morta que se sentiam no restolhar dos pneus que rodavam ao som do pedal. A partir daí eram montes, pedras e pedragulhos, o cheiro da natureza que indiciava a estação do ano. O perfume floral na Primavera, o doce dos arbustos e dos insectos no Verão, a humidade da terra no Outono e o frio cortante, que também se cheira, nos dias de Inverno onde ainda era possível fazer este caminho.
Estes cheiros existiam e duravam de forma lânguida, destoando do fervor do biciclo que rasgava os montes, contando o tempo em pedaladas. Segundo a segundo, como ele o merecia ou parecia merecer. É essa uma das cortesias que a Natureza tem com o Homem. Deixa-o agitar-se freneticamente nas rodas do tempo, sabendo da sua efémera e mortal presença e satisfazendo a sua sede de vida contada em dias, em horas, em segundos. A Natureza fala com o Tempo na sua verdadeira dimensão, numa escala que não existe em palavras humanas. Riem-se ambos com amizade de nós, humanos, exalando cheiros, cores e ruídos. Tudo a seu tempo. Como sempre foi.
(este texto é capaz de ter continuação...)

domingo, novembro 26, 2006

Mário Cesariny (1923-2006)

O fio da vida resolveu quebrar-se.
Morres mas não desapareces. Páras mas não cessas.
Porque deixaste mais que palavras nos ventos do fim de Novembro.
Deixaste o teu ser e alma em forma de língua,
E verbos que faziam sem fazer e adjectivos que qualificavam sem julgar
São coisas que o peso da terra não apaga.

O fio da vida resolveu quebrar-se.
São efémeras as vontades das Parcas.
Seguram-nos para nos derrubar.
Derrubam-nos em lhes apetecendo.
É uma vida parca a que temos
É um tempo longo o que nos sobrevive
É um verbo infinito o que vamos lendo

Há fios que, em sendo quebrados, não se cortam.
Por não haver gume que lhes resista.
Por serem valiosos e feitos de nada.
Por serem além do tempo,
Além da vida,
Além do verbo.

O fio que és continuará e ainda corre

"Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco"*


Para sempre...

Obrigado, Mário Cesariny!

*poema de Mário Cesariny

quinta-feira, novembro 23, 2006

SS Thistlegorm


Começa de madrugada, com o transporte ondulante e o som de garrafas de ar comprimido a saudarem-se em abraços de metal na entrada do barco. É uma azáfama precoce, que nos tenta acordar os sentidos para melhor saborearem o que o dia nos reserva. O deck superior é uma enorme almofada de sono, com lençóis de toalhas de praia que nos enroscam carinhosamente e são armadura para a intensa brisa matinal do Mar Vermelho. Uma brisa que nos vai despedindo Sharm El-Sheik e apresentando uma costa mais larga, rumo a sul.

Há pinceladas de um sol que já se espreguiçou e se levanta de chinelos pelo céu, começando a queimar quem se exponha em descuido nestas latitude. Passadas estas horas de viagem, o cheiro do café e do pequeno almoço na cabina do piso inferior convidam ao repasto matinal. É também sinal que chegámos à entrada do golfo de Suez, esse irmão desavindo de um outro, o de Aqaba. Estes dois golfos enclausuram o Sinai entre águas turquesas, onde a aridez da superfície das montanhas e do deserto contrasta com a vida exuberante das suas profundezas.

Não fossem os outros dois barcos de mergulho que ali estavam fundeados e aqui pareceria ser mais um local igual a todo o resto do mar. No entanto, aquele era o nosso destino. Um destino breve de apenas um dia para nós, um destino eterno para o SS Thistlegorm que ali pereceu no ano de 1941, em agonia, vítima de um avião nazi que regressava à base com bombas em excesso.

Amr, o nosso guia egípcio, mergulha antes de todos para se assegurar que um cabo-guia estaria seguro à balaustrada da carcaça prometida mas ainda invisível. Um a um, fomos entrando em passo de gigante e descendo. A início é apenas o azul. Aquele azul que devora e nos arrasta os olhos, intrigante e sedutor. E depois ele aparece, estendido nas areias, destroçado a um terço da popa, onde o metal lhe permite uma rotação para bombordo. Mais uma vez, entendo porque os ingleses tratam os barcos no feminino. Porque não são corpos másculos, mas sim silhuetas femininas que torneiam as ondas na superfície com a mesma elegância que jazem no fundo. Numa cama de areia. Convidando. Ali estava ela: SS Thistlegorm!

Há sítios onde o tempo se move em caminhos diferentes dos do dia a dia. Aqui é um desses sítios. Imóvel e solene, este destroço de 419 pés de calado (128m) e de 59 pés (18m) de boca, pesando cerca de 5.000 toneladas, abriga vida marítima em danças de peixes à volta do convés. Lá dentro, nos porões, espera-nos uma carga com camiões Bedford, motas BSA, espingardas, obuses, pequenas locomotivas e toda uma panóplia de fornecimentos exigidos para alimentar o monstro da Segunda Guerra Mundial. Circundamos o casco, com maior fervor na direcção proa-popa porque a corrente se faz sentir. Na direcção inversa, dobrando a popa inclinada nestes 30 metros de profundidade e prestando homenagem ao hélice, basta-nos deixar flutuar e viver o cenário.
O interior reserva uma visita à zona de cabinas, sem esquecer o quarto do Comandante. Os corredores. Os porões. O castelo de proa.
E somos peixes. Entendemos porque brincam eles à apanhada entre as escadas e nos convés. Tornamo-nos parte da cena por instantes. E, quando pela ausência de guelras, a reserva da garrafa nos obriga a voltar ao ar puro da superfície, subimos pelo mesmo cabo que antes nos afogou num sorriso descendente. Morremos como criaturas marítimas e regressamos para poder contar como é ser peixe e perceber porque não precisam eles de falar...

terça-feira, novembro 21, 2006

Hamlet da bola

"Algo está podre no Reino da Dinamarca!"...e eu espero que seja o clube de Copenhaga, especialmente no sector defensivo. A ver vamos!
Força, Benfiiiiiica!

PS: E foram 3...agora é ir a Old Trafford mostrar que se podem fazer coisas bonitas sem ter o Cristiano Ronaldo!:)

quarta-feira, novembro 15, 2006

Está escuro, lá fora


Está escuro, lá fora.
Aqui também!

Estão gotas no céu a morrer,
Caíndo
Num suicídio colectivo, sem tino.
São lágrimas de água a escorrer,
Sorrindo
Da suposta ironia do destino.

Está um vento de ar assustado,
Escapando
Da nostalgia insensata e sem sentido.
É fuga invisível de olhar agitado,
Tentando
Salvar ao passado o tempo perdido.

Estão ondas no mar a gritar,
Dançando
Descontentes ao ritmo da maré.
São fantasmas líquidos a espumar,
Assombrando
A alma de quem, com pena, não tem fé.

Está escuro, por ali.
E aqui também!

Por ser, lá fora, um Outono triste e plúmbeo
Por ser, cá dentro, um Inverno longo.

terça-feira, novembro 14, 2006

Tabuadas Manuais


Meus caros, há dias em que me dá para isto. Ouço falar da iliteracia matemática do país, da complicação das contas, das percentagens estimadas das greves... enfim... são números, Senhor. São números!

Por isso, hoje trago uma curiosidade matemática para quem goste. Para quem não goste, vá ali ao balcão beber um mojito, uma cuba libre ou um malte sem gelo...sintam-se à vontade. Estão em casa!

Vamos a isto: A tabuada DO nove pelos dedos (apontem para explicar aos filhos em idade escolar e certifiquem-se que têm 10 dedos nas mãos. Embora com os pés também resulte desde que não seja a pontapé)!

1 - Estiquem os dedos de ambas as mãos (sim, têm de largar o copo para isso).
2 - Agora pensem num número de 1 a 9. (Ex: 4) Não dói!
3 – Contem o número nos vossos dedos da esquerda para a direita.1,2,3,4! (Esquerda é o lado de bombordo, ok?)
4 – No dedo do número, parem e escondam esse dedo. Podem cortar também. Mas é desagradável e dói mais que pensar no Passo 2.
5 – Olhem para as vossas mãos. (Esqueci-me que isto deve ser feito ANTES dos mojitos e tal...)
6 – Nos dedos do lado esquerdo do “escondido” estarão as dezenas (Se fizeram bem, estarão 3 dedos), e no lado direito a unidade (se fizeram bem, estarão 6 dedos).
7 – Agora é pensar outra vez e, como dizia o outro, “é só fazer as contas”: 3 x 10 + 6 = 36

8 - Verificar que 9 x 4 = 36 também...ENA!

E o que é giro é que funciona para os outros números menores que 10 para além do 4, hein?!
Mais giro ainda é provar o porquê disto funcionar...mas isso fica para a próxima, que eu também tenho direito a copos, ou não?

domingo, novembro 12, 2006

Calvin-manias

Demorou, mais por falta de tempo e inspiração do que pela escassez de manias, mas cá vai a resposta ao repto que o Rafeiro Perfumado me lançou. Caro amigo, não sou de virar costas a um latido desses!:)
Regulamento:
"Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."

Manias
Não gosto de pequenos-almoços na cama! Devo confessar. Tal como todos nós, tenho um sonho. O meu é estar sozinho com o tipo que inventou este mito de que tomar o pequeno-almoço na cama é a coisa mais romântica que se pode ter. E depois trocar umas impressões com ele... Eu e a minha caçadeira de canos cerrados ou mesmo a minha pistola de zegatrões que liquidificam.
Dobrar os pacotes de açúcar do café meticulosamente enquanto penso “na morte da bezerra”. Não o faço de propósito. É tipo pavloviano. Rasgo o papel, despejo e imediatamente as minhas mãos iniciam o ritual de dobrar ao meio, depois aos quartos e tal...internem-me!:)
Ouvir uma determinada música várias vezes seguidas. Daquelas que nos apaixonam. Daquelas que passados uns anos nos vão fazer lembrar aquela época, aqueles momentos. Não me basta ouvir uma ou duas vezes. Ouço e volto a ouvir, saliento os pormenores dos instrumentos, da voz. Serei o único?
Tenho a mania que este ano é que o Benfica vai ganhar o campeonato nacional e a Liga dos Campeões! Mesmo e apesar do Fernando Santos... Temos de guardar a nossa irracionalidade para alguma coisa, não é? Glorioooooso!
Não tenho a certeza, mas ouvi dizer que tenho a mania de corrigir alguns bloggers na sua escrita e tal. Meus amigos, isto é apenas um acto de carinho e não de sobranceria. Carinho por VExas. e pela língua portuguesa que, das centenas que andam pelo mundo, calhou a ser a minha. Podia ser swahíli ou mesmo aquele dialecto cerrado do noroeste da Mongólia, mas calhou ser esta. E, como é minha, gosto dela! Mas sem fundamentalismos...
Os cinco “maníacos” que se seguem, são:

Alice in Wonderland
Belgiumtugadois
Irritadinha Online
Load""
Mundo em que vivemos

Caso não respondam, já sabem que irão sofrer de calvície prematura, pedra nos rins, falta de humor e comichão nas zonas íntimas... não arrisquem! Eu próprio vi uma pessoa que não respondeu a este desafio a coçar-se mais que um grilo a trinar!:)

terça-feira, novembro 07, 2006

A elegância da atitude

Ironias da vida, onde matamos em horas de espera
A aflição pelo tempo que faz falta e passa.
Quando, olhando a rua em movimento,
Procuramos a sensualidade que nos ilude.

Enfeitamos os olhos com um olhar de fera
E vemos passar uma mulher sem graça,
Com uma engraçada T-Shirt, dizendo:

”Elegance is an attitude!”

segunda-feira, novembro 06, 2006

Riscos na Estrada


Passam velozmente, estes traços descontínuos. Aceleramos e eles aceleram connosco. Aumentam a celeridade e fazem-nos acreditar que a sua descontinuidade é aparente. Paramos e eles morrem no seu movimento e mostram-se ainda mais descontínuos. Como se, no fundo, fossem um infinito traço contínuo que se mostra apenas em alta velocidade.

Nós não vemos isso. Apenas as crianças, que são, de todos nós, aqueles que sabem olhar o mundo como ele é, sem filosofias, sem argumentos rebuscados, sabem ver o que os nossos sentidos nos dizem e não o que queremos que eles pensem.

“Pai, mas eles andam para trás. Olha!” – apontando com o seu dedinho sábio e perspicaz.

E eu, que sou um adulto chato e rendido às evidências de séculos de estudos de cinemática, movimentos rectilíneos uniformes e acelerados, penso que a posso ajudar a crescer e digo-lhe que não. Que somos nós que andamos para a frente e não os riscos para trás. Apenas parece que eles andam. Os olhos enganam...e até vou parar o carro para ela ver que eles pararão também. E eles páram. Claro que páram, afinal eles sabem que estamos parados e não vêem razão para andar. “Mas somos nós que andamos, entendes?”

“Não é, não. Pois é? Eu sei que eles andam...” – diz com a evidência de não serem os seus olhos que a enganam, mas sim a minha mente de adulto, que nada sabe da experiência de se ter 3 anos.

É claro que quem se move somos nós. Ou, melhor dizendo, o carro. A estrada está lá. Parada. E nem nos vê a mover. Nem quer.

Que tontice, a das crianças! Acreditar que são os riscos da estrada quem se move...

E, no entanto, com as duas mãos no volante e desistindo de argumentar com a minha filha a realidade dos riscos estarem parados, sigo caminho. Vendo o mundo a andar ao ritmo do meu pé direito e sorrindo contente pelos dias onde ainda era possível serem os riscos a andar para trás! E por ela ainda os poder viver...

sexta-feira, novembro 03, 2006

Auto-tristeza

Triste é estar a alcançar
E não conseguir.
É entender porque se sobe
E só cair.

É bastar a ideia
E não a regra.
É, de tudo, tentar apenas
O que não alegra.

É invadir o sonho fortuito
De almas e tentações e objectivos.
É, querendo agarrar, deixar fugir

O peso pesado que pesa nos vivos.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Aridez de palavras

Há Tempos em que o parto dos nossos pensamentos não faz nascer palavras e, muito menos, escrita...
Estou em Tempos desses, como um período de calmia antes da tempestade!

segunda-feira, outubro 30, 2006

Fado Moderno


Da Lua, apenas um esgar cálido, envolvente,
Um sinal constante que nos guia
Na rua, onde o cheiro a noite violenta
Um sono paz de alma fria.

Do ar, um sussurro abafado e sedento
De música e ritmo e euforia.
No mar, enquanto a onda molha o corpo nu e despojado,
Cantam-se acordes bêbados de maresia.

Do rio, choram-se fados desencontrados
Em bares gastos de vinho e poesia.
No frio, contam-se às pedras da calçada
Destinos perdidos e ressacas de vida doentia.

Da noite, lembranças de fumo se dissolvem
No copo, na mulher, na mão estendida que tremia.
Na cama, musculam-se forças que suportem
Desta vida mais um dia!

sábado, outubro 28, 2006

Manifestações educadas?

Li isto e reflecti (mais uma vez) que nem sempre por nos manifestarmos temos razão...
O texto é pertinente e os comentários são válidos. Mas não julgo...

Eu, de matérias escolares nada percebo. Fui aluno. Apenas isso. Ou utente, como agora se gosta de dizer (se em saúde somos utentes e não doentes, porquê não considerar que na educação seremos o mesmo e não alunos?). Tive bons e maus professores, mas essencialmente, considero que a minha escola (é bom termos uma escola, pois considerar que temos algo é um acto de carinho) me deu uma educação mais culta que erudita, mais humana que programática. E complementou a formação que tinha em casa, que não pode ser esquecida.

Mark Twain dizia: "I never let my schooling interfere with my education"!

É um assunto para pensar...

sexta-feira, outubro 27, 2006

Cry me a river


"Well, you can cry me a river
Cry me a river
Cause I cried, I cried
I cried a river over you "
Ella Fitzgerald

Nasce como uma toalha de água que pede para ser enxugada. Uma fonte de dentro que faz brotar o que não tem palavras para se chamar nem nome para ser dito. A um ritmo. Ao ritmo do compasso coronário. Ao compasso com que medimos a vida. A esse que, em acabando, acaba por acabar connosco.

Cresce e tempera-se de sal. Experimentando o tempero dos contornos com que vemos o mundo. Aprendendo a dor de seres tu. E de ser eu. E de ser o que tu te transformas em mim. Desfazendo os contornos. Refractando cores e envelhecendo numa catarata que tudo desfoca. Menos a alma.

Desiste e escorre. Rola pelo que se beija como se fosse destino. Desliza como dois braços caídos. Um de cada lado. Lado a lado. Enrolados, rolando a caminho do fim.

Saboreia-se na sua própria morte. Entre os lábios que deveriam ser cama e são terra. Terra salgada, agora. Terra árida onde nada crescerá, nem um sorriso. Nem um beijo. Nem nada.

Imagina-se como seria se tivesse nascido, crescido, desistido e sido saboreada como lágrima. Só que a imaginação não é fonte de água. E não sabe a sal, como o que deveria ter sabido. Porque não se consegue. Porque não está lá e o rio não corre. O rio nem se chora.

O rio é apenas uma seca linha solitária que não existe a dois. E é por isso que não corre. Nem por mim. Nem pelo que correu em ti.

quinta-feira, outubro 26, 2006

O maior português

É verdade, Alice. Eu também vi isso!
Concordo que se deve discutir isso num espaço lúdico e lúcido. Afinal, é sempre complicado hierarquizar categorias diferentes. É misturar alhos com bugalhos!
Houve, contudo, um momento do debate que teve mais polémica e que gostaria de comentar. Aquele em que o Prof. José Hermano Saraiva saiu à defesa do nome de António Salazar. Mal se ouviu o que ele disse porque todos se juntaram para mostrar a sua indignação. Fica bem tornar visível a nossa indignação politicamente correcta, especialmente em prime-time! No entanto, se bem recordo o que ele disse, o seu depoimento cifrou-se por um cariz pessoal, dizendo que no trato pessoal, jamais tinha encontrado alguém tão sério e coerente como a pessoa de Salazar. E, sobre isto, apraz-me dizer o seguinte:
a) Sou demasiadamente adepto da liberdade e da independência para admirar alguém que encabeçou uma ditadura. Que isto fique claro sobre qualquer cabeça que tente colocar aqui uma simpatia salazarista na minha pessoa! Para mais, sou daqueles que nao tenho ídolos mas sim referências...e Salazar não é uma delas!
b) Admiro o valor da amizade. E, o que vi, foi alguém que preferiu dizer algo politicamente incorrecto, mas ficar de consciência limpa, do que silenciar-se enquanto o resto do auditório dizia o que já sabemos sobre a figura de Salazar, que era do seu conhecimento e simpatia pessoal. Não ganhou nada com isso. Mas disse-o, sem medo! E, na minha opinião, não ser neutro e silencioso quando a nossa consciência se incomoda é uma qualidade e uma prova de carácter. Porque para criticar o óbvio há sempre muitos...é quase osmótico...
c) Gosto de estar num país onde seja possível acontecer o programa de ontem. Com todas as barbaridades que tenham sido ditas...
Lembro-me que alguém disse um dia sobre Portugal que "nunca fomos muitos, mas quando soubemos ser Todos, fomos os bastantes." Acho que foi o Prof. Hermano Saraiva, mas não tenho a certeza! ;)
Talvez volte ao assunto da escolha de "Maior Português" mais tarde...
Viva Portugal!

quarta-feira, outubro 25, 2006

Meteu água

Em relação a uma situação de inundação provocada pelo mau tempo da noite passada, e enquanto se preparava para entrevistar uma senhora, acabei de ouvir um jornalista da RTP a dizer:"Foi uma noite terrível, em termos de água!"
Não adjectivo a formulação da frase...mas, para mim, acho que ele meteu água, em termos de jornalismo.

Sem tempo

Ando sem tempo para ti.

Que digo eu? Nem para mim o tenho...
As horas voam e os minutos nem passam
Neste ritmo de vida tão estranho.

E quando dou por mim pensando
Porque hoje a vida passou vã,
Logo o tempo que não tenho passa
E o hoje tornou-se amanhã.

E amanhã também não te ligo
Porque o tempo, esse não perdoa,
E desaparece sem castigo
Porque, até agora, só ele voa.

Mas quando o dia chegar
Em que ficas sem tempo para mim,
O meu tempo suspira e pára
Pelo teu tempo que fugiu sem fim.

terça-feira, outubro 24, 2006

Esta não foi nos USA

E para quem não acredita que existem coisas infinitas, aqui vai um exemplo da infinita estupidez humana...

segunda-feira, outubro 23, 2006

O que a vida tem

A vida tem vinho e jazz.
E tem momentos de angústia e desconcertação.
Tem dias de Sol radiante e noites de compaixão.
Tem risos e gargalhadas, tem lágrimas e demissão.
Tem crianças que jogam tudo num intervalo da escola e tem ausência de pausas para jogar na profissão.
Tem livros, tem música, tem cinema.
E tem mar para acompanhar a solidão e nuvens para cobrir o céu como um triste poema.

Tem bichos da conta no jardim.
Tem ervas amargas nas aldeias.
E tem as contas do dia a dia e a miséria que convive nas traseiras.
Tem teclas e mecanismos digitais.
E tem burocracias infernais.
Tem amigos e família, tem amores e paixões.
E tem etiquetas e ódios, tem desencontros e traições.
Tem o estar perto como o cheiro da areia, tem o estar dentro como uma conversa em sintonia.
E tem o estar longe de nós e o ser posto de fora pelos outros em demasia.

Tem a chama do entendimento, tem o conforto de acreditar.
E tem a ignorância que maltrata e a arrogância de julgar.
Tem o conhecer o caminho de cor, tem o não conhecê-lo e saber para onde se vai.
E tem cruzamentos sem mapa e becos de onde não se sai.
Tem quase de tudo. De tudo tem um pouco. De um pouco tem quase nada.

Mas o que mais custa é vivê-la dormindo, sabendo-a acordada...

domingo, outubro 22, 2006

E onde se começou a "saxar"?

Hoje estive por aqui...sim, num sítio onde nasceu quem fez nascer o saxofone!

É fácil descobrir onde é!

E vale a pena, por se sentir que o rio deve ter dado alguma inspiração ao criador desse inseparável metal jazzista, pelo cuidado das ruas, pela continuidade da boa cerveja, pelo vislumbre da fortaleza altaneira onde se imaginam os frios e terríveis dias da Batalha das Ardenas. E por saber que continua a valer a pena ir ouvindo o ritmo dos sítios onde se viaja...

quinta-feira, outubro 19, 2006

Rivolução

Desde a música do Rui Veloso e do seu anel de rubi que não se falava tanto deste teatro. Parece que se barricaram uns tantos actores e deram-lhes um tratamento frrrrriiiiio. No sentido térmico, digo eu...

Acho que mal
saíram de cena, já vão levar umas pancadas de Moliére...nada moles...

Não estou nem de um lado, nem do outro. Mal percebi a azáfama da coisa e fico sempre com aquela sensação de amplificação dos media perante uma situação ligeira. Mas houve espectáculo no teatro!

Partam uma perna!

quarta-feira, outubro 18, 2006

Na terra da Comi(x)ão Europeia

Chega-se a este meio de mundo...meio ensonado...meio offline...com meia inspiração...
Melhores dias bloguistas virão!

terça-feira, outubro 17, 2006

Pensamento à linha

Era uma daquelas noites onde o calor, miasmático, se entranhava intensamente na mente. Mais do que no corpo que transpirava para se desfazer das temperaturas do dia que havia passado. A luz branca do farol, fleumaticamente intermitente, avisava ao horizonte que a costa começava ali. Lembrança valiosa para aqueles que chegavam pelo mar e piada irónica a quem se via preso em terra, estando tão perto do seu fim. O vento definia o estado das coisas, recordando a sua existência por não existir, forçando o marasmo à turbulência intrínseca da Natureza. Ao longe, um casal de luzes de navegação encaminhava-se para a entrada da barra do rio. Verde e vermelha, um casal inseparável e feliz vivendo na ordem que só as convenções sabem ter. Verde e vermelha, juntas, iluminando diferentes um só destino. Era uma daquelas noites onde o calor, miasmático, matava o tempo com contornos de quem sabe que uma boa tortura é feita devagar e que uma boa vítima é aquela que não se esgota antes do desfalecimento absoluto.

E ele, todo ele era linha e cana, atirando ao infinito o isco das ideias que lhe iam surgindo. Entre ele e o rio de dúvidas que corria em direcção ao mar, apenas o paredão, apenas umas rochas envergonhadas e desnudas pela maré baixa. O tempo passava, escorrendo por esse fio que salvava uma suicida bóia fosforescente, pingando a rotina do dia no fluxo da maré. E o seu peixe, tal como o pensamento, não fisgava.

Não era a pesca em si que o trazia ali. Ali onde os peixes não eram presas porque não se caçavam, apenas desistiam da vida e, num último gesto altruísta para com o pescador e o seu balde plástico, engoliam o anzol. E não prestavam para mais que isso. O que o trazia à beira-rio era a justificação do tempo para si. Vou pescar! – dizia. E assim todos sabiam que iria estar sozinho e não o incomodariam. Se fosse fazer nada, o que diria aos outros? Poucos entendem o que é fazer nada. Especialmente se se faz nada sozinho. E isto pese embora o facto de existirem coisas que todos fazemos apenas para conseguir criar razões para realizarmos outras, as que não realizamos primariamente.

- Picou!- proferiu mais por instinto do que por reflexão consigo próprio. Picou o peixe e o tal pensamento que o tinha arrastado para lá em simultâneo. Agora tinha que retirar o anzol aos dois.

Na altura, tudo parece evidente, fácil, simples. Mas acontece que a força das idéias fraqueja com a análise do espírito. O próprio espírito tende a perder força quando sujeito ao tratamento do tempo. E tanto tempo que é uma noite...

E é por isso que agora, decorrida a noite, afoga-se o mesmo calor numa hierática caneca de cerveja que também sabe torturar sozinha, mas docemente. Para o Diabo com as ideias! Mais vale lançá-las de novo ao rio.

E assim foi!

Cais



E esse tempo em que te vais,

Como se fosse uma ausência de barco,
Tem o tamanho de todo o mar
Rindo do cais de onde nunca parto.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Re-Ler

Winston Churchill dizia que um homem caracterizava-se não pelo que lia, mas sim pelo que relia.
Agora que acabei de ler "O Último Papa" pela primeira vez (e chega), dei comigo a pensar que ando a precisar de reler mais umas coisas...

Finalmente, eis o Outono!

Finalmente um tempo assumido. É Outono!
Sou daqueles que vivia bem sem chuva, mas Diabo!, há um tempo para tudo e este misto de "Verão que nao acabou mas também não é grande coisa" já começava a fartar. Venha o tempo cinzento, a chuva, o vento que me balança a rede na varanda, os relâmpagos e os trovões!

Se há coisa boa é ver o ano a fluir. Sentir que o tempo, para além de medida física, é causa de mudança, de novas páginas. Eu, por mim, molho o dedo para virar esta. Aguardo pela que vem aí, mas de galochas e sobretudo!

Por outro lado, um tempo em que tanto faz sol num dia, como no outro chove infernalmente, como depois se torna num cinzento nostálgico e volta ao Sol, é tão estável como os desempenhos do Benfica, esse Glorioso. Tanto abocanha uns 4-0 em Leiria com bons golos, como se deixa empatar em casa, perder por não ter canetas para mais... ná...assim não vamos lá...

Em suma, da mesma forma que se cumprimenta o Verão, aqui estou eu para cumprimentar o Outono, esse catalisador de viagens interiores, maiores compras de bilhetes para o cinema, refúgio de centros comerciais para alguns e de mantas no sofá para outros. De peito aberto, "Venha ele!" que os da banda vê-lo-ão passar!

Boas nostalgias para todos vocês!

domingo, outubro 15, 2006

Despojos do Mar


Morre uma onda na praia,
Como um cadáver da espuma dos dias.
E uma pegada minha na areia desmaia
Num mar já morto de filosofias.

E enquanto uma onda não vem
Com orgulho morrer devagar,
Mais uma pegada na vida traço
Nas areias em que vou caminhar.

Do tempo que passa, a memória fica
Da espuma que fica, sente-se só o borbulhar
As conchas e as algas são a herança rica
Que ao desbarato se ganha nos despojos do mar.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Cabelos sem taxa moderadora

Porque é bom ver que há quem nos ponha a rir...e bem penteadinhos!
Pelo menos rir ainda não paga
taxa moderadora...por enquanto, geniais!

Insónia

Surge na noite longa sem aviso
Esta sensação cómoda de mal estar.
Uma suave gargalhada, pouco mais que um sorriso,
Que me impede de dormir para não ter de acordar.

Mexe-se e revira-se o meu corpo entorpecido
Pelo calor que libertam os lençois da mente.
Rasga-se e morde-se a pele do tecido
Que é a escuridão que para se ver não se sente.

E tanto tempo a pensar, tanta é a ansiedade
Morre a noite num beco,
Nasce de novo a cidade.

E quando acordo da noite que não dormi,
Visto-me e preparo mais um dia.
De tão pouco dormir nem vivi!

E olho nos olhos inchados
Que o espelho me devolve sem pressa
E só vejo os recados
Que ficaram por dar na véspera.

O pior nem é o cansaço que arrasa,
Nem a culpa de me sentir mal.
É saber que ao voltar para casa
A noite vai ser outro dia igual.

E o Óscar, perdão, o Tuga vai para...

E na lista para ver quem é o melhor tuga está: tchan, tchan...vejam...e estão abertas as apostas!
Mas ter na mesma lista o Durão Barroso, o Joaquim de Almeida, o D. João II ou o Salazar não antevê nada de bom...irra:)

quinta-feira, outubro 12, 2006

Há países assim, lembram-se?

Porque é bom acordar (no sentido lato da palavra) e relembrar que há países assim...
Obrigado Optimist por nos lembrares!

Sigo caminho

Sou a mala que vai a caminho.
Sou a nuvem que passa distante.
Escondo-me do sol cintilante,
Mostro-me onde estou sozinho.

Passo lesto e vou descontente
E, em fuga lenta, desapareço.
Sou uma pedra de arremesso
Contra a mentira de toda a gente.

Corro cego e vou em fugida.
Procuro o que já não existe.
Só a vontade persiste
De aqui ser minha despedida.

Assim me afasto e sigo caminho
Por atalhos que desconheço.
Nos trabalhos que a mim peço
Tento ver do que sou capaz.

Desfaço-me e aconteço,
Mato-me e adormeço,
Mas jamais volto atrás.

quarta-feira, outubro 11, 2006

São três na Perestroika!

E não é que hoje Portugal em formato Sub-21 bateu os "filhos de Putin" que nos tinham alambazado 4-1 na sua terra natal e conseguiu passar à fase final do Euro2007? Ah, Portugal, Portugal, quando tens gana até nos enganas!

Sabes, Sapiens?

É complicado viver numa sociedade que exige o direito de liberdade de expressão mas que abdica progressivamente do direito de liberdade de pensamento.

Olho em volta e vejo formatações. Matrizes solidificadas onde, pé ante pé, todos nos vamos tentando equilibrar, procurando não perder o equilíbrio nas dimensões que nos ensinam sem que aconteça o rasgo do pensamento que nos permite ver a matriz do lado de fora, como se fossemos o quadrado que Edwin Abbott anteviu em Flatland. Onde e como o conseguiremos, homo sapiens sapiens?

Somos anestesiados com publicidade e com programas televisivos de tragar pela boca e de digestão imediata.

Somos colapsados na amálgama que se move homogénea nos transportes públicos e nas artérias da cidade sincronizadamente para os relógios de ponto dos empregos determinados e rotineiros.

Somos endividados com o que nos impingem e pagamos com stress os juros elevados da modernidade.

Somos esmagados pelo peso da responsabilidade de se ser um bom cidadão, um bom pai, um bom amigo, um bom consumidor, um bom trabalhador, um bom empresário. E aliviados do peso de se ser simplesmente um bom ser humano.

O problema está em não sermos o que gostaríamos de ser, nem nos deixarem ser o que somos . Mas precisamos que nos deixem? Talvez não, talvez sim, talvez...sabes, Sapiens?

terça-feira, outubro 10, 2006

Bandeirolas em terras do "milhe frite"

Que uma manteiga de alho me caia na cabeça se a lolita não tem razão neste post. De facto, a política insular já começa (há muito tempo) a deixar a Paciência pouco paciente. E eu, que até gosto da ilha, acho que ela mereceria uma melhor imagem política.
Alguém que mande neste país: tire o Herman das noites de Domingo e meta lá o Alberto João para animar a malta. As barbaridades parecerão as mesmas mas, pelo menos, serão mais inócuas e ninguém as vê. Com a vantagem de o Herman talvez se decidir a reformar (que bem merece) ou a fazer sketch com os Gato Fedorento (que bem merecemos nós).
Sic transit glori mundi et Madeira!

segunda-feira, outubro 09, 2006

Verso-Reverso


É este poema verso-reverso
Que me apetece agora criar.
Uma linha-traquina, uma rima do avesso
Que rima o que não pode rimar.

Um poema arisco-visto,
Uma comichão de pele-vocabulário.
A irritação, insisto nisto,
É virtude maior do poema-abecedário.

Uma palavra que arranha-gadanha.
Morte vestida de pêlo e aço.
Mais que uma estrofe, uma façanha,
De criar o criado, um faço desfaço.

Um mexe que remexe e remói.
Um iletrado que cospe e esfaqueia.
Um inédito que só corrói
A cabeça dos outros, a quem remedeia.

E é por tudo isto que jamais desespero.
E é por nada disto que jamais tenho fé.
Este poema-palavra que em vão arremesso
Talvez mais não seja que um tiro no pé.

Pyongyang - tem som de ricochete de bala

E se houvesse petróleo na Coreia do Norte também se invadia? Talvez não...os coreanos são uns gajos mais lixados de levar no couro...e valem menos dólares!

Questões nocturnas sobre quando nada se Sonha


Qual a justificação quando nada se faz?
Qual o preço a pagar por se ser espectador do mundo?
A morte não será seguramente. Essa não é preço, é custo fixo de todos e para todos.
Será a vida? Ou, melhor dizendo, esse neoconceito de "estilo de vida"? É esse que justifica que se prescindam dos valores evidentes mas que se mantenham os considerados correctos?
O que faz com que até homens e mulheres inteligentes, poderosos e letrados virem a cara? Que adiem? Que não se aconteçam?
Tenho pena que este mundo humano se afaste tanto da nossa natureza que já nem nos reconheçamos quando olhamos ao espelho das nossas acções. Somos agora um compromisso, um tempo para a segurança, um cinzento. Somos a forma pálida do que fomos ainda há poucas gerações. Daqueles homens que tinham de fazer porque não tinham outra saída. Daqueles que, como se diz, foram heróis porque não tiveram tempo de fugir. Mas que foram!
Dos que arriscavam porque o risco valia a pena. E continua a valer, mesmo que sejamos ensinados a pensar que não. Queremos carros mais rápidos mas onde ninguém morra, comida farta mas sem nenhum lado negativo para as homeostasias corporais, férias distantes mas com as mesmas comodidades de ficar na nossa sala, aviões disponíveis mas sem acidentes, trabalho árduo e mal pago mas emprego garantido, sucesso na educação mas sem reprovações, vivemos sem paixão mas morremos cada vez mais tarde e todos os mais exemplos que fazem desta sociedade um óptimo sítio para se sobreviver, mas um local dificil para se sonhar.
Aqueles que tornam os seus sonhos impossíveis, terão de lidar com uma rotina inevitável.
E a rotina, meus caros, é o oposto de se ser humano!
Mas eu, que sei disto? E que justificação tenho para fazer tão pouco?

domingo, outubro 08, 2006

Onde está Deus?

"O céu profundo é, de todas as impressões visuais, a mais parecida com um sentimento."
Samuel Taylor Coleridge, Notebooks (1805)


Deixar que a escuridão me ilumine,
Sentir a brisa do silêncio...
Ah! Que felicidade estar neste estado sublime!

Mil olhos me fitam chispando fogo,
E o meu coração bate pelo calor mas sem resposta...
Não existirá uma voz que me responda?
De que serve a existência se ninguém se mostra?

E quantas vezes nesta multidão me sinto sozinho,
Me sinto desprezado pelo tempo que passa,
Esquecido até pelo caminho.

E quando olho para mim tenho umas saudades infinitas
Das mãos de criança que contavam as estrelas do céu
E em cada uma viam um Sonho,
Dos olhos maravilhados que se espantavam de brilhar.

Que necessidade apaixonada de olhar o céu nocturno
E de não perceber mas acreditar!

Revivalismo - Live Aid 85


Ontem o revivalismo atacou a minha residência. Não estivesse eu na companhia de amigos de infância que trouxeram a sua infância como companhia e temeria que o tempo tivesse mesmo andado para trás (aceito que estarei a ser hiperbólico...mas qual a piada de ter um blog se o nao puder ser, hein?).

Pois estivemos até horas infâmes da noite a (re)ver o Live Aid de 1985.

- Epá, vocês têm de ver o cabelo do Bono naquela altura!

- Nik Kershaw? Não se lembram do Nik Kershaw e o seu "Wouldn't it be good"?

- O Phil Collins é que vive. Foi o único que tocou em Wembley e Filadélfia. Voou de Concorde de um lado para o outro. (neste ponto, não deixa de ser engraçado pensar que hoje não seria possível isto..passados 21 anos. Volta Concorde, estás perdoado!)

- Não acredito que a Madonna está de sapatinho e meia branca de renda...

Não há grande lição neste post. Extingue-se mesmo na partilha dos cabelos desgrenhados, das cores digamos, hmm, variadas das roupas que marcaram os anos 80. Those were the days...ou talvez não!

O Tempo é que continua a passar sem respeito pelo ritmo a que as nossas memórias se mantêm...e a razão pela qual se realizou este concerto mantém-se actual, infelizmente sem ser memória.

sábado, outubro 07, 2006

Palavras, leva-as o vento

Que difíceis são as palavras!

Soam, mudas e caladas, a lamento.
Como surdas trovoadas de um mau tempo.
E são farpa e estigma, são estocada.
São verdade ou mentira, são nada.

E são tudo. Quando nem tudo convém.
Quando a voz é o que se pensa
E o que se pensa se diz a ninguém.

São versos, são prosa, são literatura.
São textos de pouca dura.
São frases com pouca sentença.
São ideias sem presença.
São sintomáticas dores da doença
Que ataca, sem licença,
Quem as guarda, quem as ouve,
Quem as viu, quem as não soube,
Quem as não quer, quem as não tem.

Que difíceis são as palavras,
Quando encontram o momento
Em que não se podem calar.
Quando são ditas a tempo,
E o vento não as pode levar.