segunda-feira, outubro 30, 2006

Fado Moderno


Da Lua, apenas um esgar cálido, envolvente,
Um sinal constante que nos guia
Na rua, onde o cheiro a noite violenta
Um sono paz de alma fria.

Do ar, um sussurro abafado e sedento
De música e ritmo e euforia.
No mar, enquanto a onda molha o corpo nu e despojado,
Cantam-se acordes bêbados de maresia.

Do rio, choram-se fados desencontrados
Em bares gastos de vinho e poesia.
No frio, contam-se às pedras da calçada
Destinos perdidos e ressacas de vida doentia.

Da noite, lembranças de fumo se dissolvem
No copo, na mulher, na mão estendida que tremia.
Na cama, musculam-se forças que suportem
Desta vida mais um dia!

sábado, outubro 28, 2006

Manifestações educadas?

Li isto e reflecti (mais uma vez) que nem sempre por nos manifestarmos temos razão...
O texto é pertinente e os comentários são válidos. Mas não julgo...

Eu, de matérias escolares nada percebo. Fui aluno. Apenas isso. Ou utente, como agora se gosta de dizer (se em saúde somos utentes e não doentes, porquê não considerar que na educação seremos o mesmo e não alunos?). Tive bons e maus professores, mas essencialmente, considero que a minha escola (é bom termos uma escola, pois considerar que temos algo é um acto de carinho) me deu uma educação mais culta que erudita, mais humana que programática. E complementou a formação que tinha em casa, que não pode ser esquecida.

Mark Twain dizia: "I never let my schooling interfere with my education"!

É um assunto para pensar...

sexta-feira, outubro 27, 2006

Cry me a river


"Well, you can cry me a river
Cry me a river
Cause I cried, I cried
I cried a river over you "
Ella Fitzgerald

Nasce como uma toalha de água que pede para ser enxugada. Uma fonte de dentro que faz brotar o que não tem palavras para se chamar nem nome para ser dito. A um ritmo. Ao ritmo do compasso coronário. Ao compasso com que medimos a vida. A esse que, em acabando, acaba por acabar connosco.

Cresce e tempera-se de sal. Experimentando o tempero dos contornos com que vemos o mundo. Aprendendo a dor de seres tu. E de ser eu. E de ser o que tu te transformas em mim. Desfazendo os contornos. Refractando cores e envelhecendo numa catarata que tudo desfoca. Menos a alma.

Desiste e escorre. Rola pelo que se beija como se fosse destino. Desliza como dois braços caídos. Um de cada lado. Lado a lado. Enrolados, rolando a caminho do fim.

Saboreia-se na sua própria morte. Entre os lábios que deveriam ser cama e são terra. Terra salgada, agora. Terra árida onde nada crescerá, nem um sorriso. Nem um beijo. Nem nada.

Imagina-se como seria se tivesse nascido, crescido, desistido e sido saboreada como lágrima. Só que a imaginação não é fonte de água. E não sabe a sal, como o que deveria ter sabido. Porque não se consegue. Porque não está lá e o rio não corre. O rio nem se chora.

O rio é apenas uma seca linha solitária que não existe a dois. E é por isso que não corre. Nem por mim. Nem pelo que correu em ti.

quinta-feira, outubro 26, 2006

O maior português

É verdade, Alice. Eu também vi isso!
Concordo que se deve discutir isso num espaço lúdico e lúcido. Afinal, é sempre complicado hierarquizar categorias diferentes. É misturar alhos com bugalhos!
Houve, contudo, um momento do debate que teve mais polémica e que gostaria de comentar. Aquele em que o Prof. José Hermano Saraiva saiu à defesa do nome de António Salazar. Mal se ouviu o que ele disse porque todos se juntaram para mostrar a sua indignação. Fica bem tornar visível a nossa indignação politicamente correcta, especialmente em prime-time! No entanto, se bem recordo o que ele disse, o seu depoimento cifrou-se por um cariz pessoal, dizendo que no trato pessoal, jamais tinha encontrado alguém tão sério e coerente como a pessoa de Salazar. E, sobre isto, apraz-me dizer o seguinte:
a) Sou demasiadamente adepto da liberdade e da independência para admirar alguém que encabeçou uma ditadura. Que isto fique claro sobre qualquer cabeça que tente colocar aqui uma simpatia salazarista na minha pessoa! Para mais, sou daqueles que nao tenho ídolos mas sim referências...e Salazar não é uma delas!
b) Admiro o valor da amizade. E, o que vi, foi alguém que preferiu dizer algo politicamente incorrecto, mas ficar de consciência limpa, do que silenciar-se enquanto o resto do auditório dizia o que já sabemos sobre a figura de Salazar, que era do seu conhecimento e simpatia pessoal. Não ganhou nada com isso. Mas disse-o, sem medo! E, na minha opinião, não ser neutro e silencioso quando a nossa consciência se incomoda é uma qualidade e uma prova de carácter. Porque para criticar o óbvio há sempre muitos...é quase osmótico...
c) Gosto de estar num país onde seja possível acontecer o programa de ontem. Com todas as barbaridades que tenham sido ditas...
Lembro-me que alguém disse um dia sobre Portugal que "nunca fomos muitos, mas quando soubemos ser Todos, fomos os bastantes." Acho que foi o Prof. Hermano Saraiva, mas não tenho a certeza! ;)
Talvez volte ao assunto da escolha de "Maior Português" mais tarde...
Viva Portugal!

quarta-feira, outubro 25, 2006

Meteu água

Em relação a uma situação de inundação provocada pelo mau tempo da noite passada, e enquanto se preparava para entrevistar uma senhora, acabei de ouvir um jornalista da RTP a dizer:"Foi uma noite terrível, em termos de água!"
Não adjectivo a formulação da frase...mas, para mim, acho que ele meteu água, em termos de jornalismo.

Sem tempo

Ando sem tempo para ti.

Que digo eu? Nem para mim o tenho...
As horas voam e os minutos nem passam
Neste ritmo de vida tão estranho.

E quando dou por mim pensando
Porque hoje a vida passou vã,
Logo o tempo que não tenho passa
E o hoje tornou-se amanhã.

E amanhã também não te ligo
Porque o tempo, esse não perdoa,
E desaparece sem castigo
Porque, até agora, só ele voa.

Mas quando o dia chegar
Em que ficas sem tempo para mim,
O meu tempo suspira e pára
Pelo teu tempo que fugiu sem fim.

terça-feira, outubro 24, 2006

Esta não foi nos USA

E para quem não acredita que existem coisas infinitas, aqui vai um exemplo da infinita estupidez humana...

segunda-feira, outubro 23, 2006

O que a vida tem

A vida tem vinho e jazz.
E tem momentos de angústia e desconcertação.
Tem dias de Sol radiante e noites de compaixão.
Tem risos e gargalhadas, tem lágrimas e demissão.
Tem crianças que jogam tudo num intervalo da escola e tem ausência de pausas para jogar na profissão.
Tem livros, tem música, tem cinema.
E tem mar para acompanhar a solidão e nuvens para cobrir o céu como um triste poema.

Tem bichos da conta no jardim.
Tem ervas amargas nas aldeias.
E tem as contas do dia a dia e a miséria que convive nas traseiras.
Tem teclas e mecanismos digitais.
E tem burocracias infernais.
Tem amigos e família, tem amores e paixões.
E tem etiquetas e ódios, tem desencontros e traições.
Tem o estar perto como o cheiro da areia, tem o estar dentro como uma conversa em sintonia.
E tem o estar longe de nós e o ser posto de fora pelos outros em demasia.

Tem a chama do entendimento, tem o conforto de acreditar.
E tem a ignorância que maltrata e a arrogância de julgar.
Tem o conhecer o caminho de cor, tem o não conhecê-lo e saber para onde se vai.
E tem cruzamentos sem mapa e becos de onde não se sai.
Tem quase de tudo. De tudo tem um pouco. De um pouco tem quase nada.

Mas o que mais custa é vivê-la dormindo, sabendo-a acordada...

domingo, outubro 22, 2006

E onde se começou a "saxar"?

Hoje estive por aqui...sim, num sítio onde nasceu quem fez nascer o saxofone!

É fácil descobrir onde é!

E vale a pena, por se sentir que o rio deve ter dado alguma inspiração ao criador desse inseparável metal jazzista, pelo cuidado das ruas, pela continuidade da boa cerveja, pelo vislumbre da fortaleza altaneira onde se imaginam os frios e terríveis dias da Batalha das Ardenas. E por saber que continua a valer a pena ir ouvindo o ritmo dos sítios onde se viaja...

quinta-feira, outubro 19, 2006

Rivolução

Desde a música do Rui Veloso e do seu anel de rubi que não se falava tanto deste teatro. Parece que se barricaram uns tantos actores e deram-lhes um tratamento frrrrriiiiio. No sentido térmico, digo eu...

Acho que mal
saíram de cena, já vão levar umas pancadas de Moliére...nada moles...

Não estou nem de um lado, nem do outro. Mal percebi a azáfama da coisa e fico sempre com aquela sensação de amplificação dos media perante uma situação ligeira. Mas houve espectáculo no teatro!

Partam uma perna!

quarta-feira, outubro 18, 2006

Na terra da Comi(x)ão Europeia

Chega-se a este meio de mundo...meio ensonado...meio offline...com meia inspiração...
Melhores dias bloguistas virão!

terça-feira, outubro 17, 2006

Pensamento à linha

Era uma daquelas noites onde o calor, miasmático, se entranhava intensamente na mente. Mais do que no corpo que transpirava para se desfazer das temperaturas do dia que havia passado. A luz branca do farol, fleumaticamente intermitente, avisava ao horizonte que a costa começava ali. Lembrança valiosa para aqueles que chegavam pelo mar e piada irónica a quem se via preso em terra, estando tão perto do seu fim. O vento definia o estado das coisas, recordando a sua existência por não existir, forçando o marasmo à turbulência intrínseca da Natureza. Ao longe, um casal de luzes de navegação encaminhava-se para a entrada da barra do rio. Verde e vermelha, um casal inseparável e feliz vivendo na ordem que só as convenções sabem ter. Verde e vermelha, juntas, iluminando diferentes um só destino. Era uma daquelas noites onde o calor, miasmático, matava o tempo com contornos de quem sabe que uma boa tortura é feita devagar e que uma boa vítima é aquela que não se esgota antes do desfalecimento absoluto.

E ele, todo ele era linha e cana, atirando ao infinito o isco das ideias que lhe iam surgindo. Entre ele e o rio de dúvidas que corria em direcção ao mar, apenas o paredão, apenas umas rochas envergonhadas e desnudas pela maré baixa. O tempo passava, escorrendo por esse fio que salvava uma suicida bóia fosforescente, pingando a rotina do dia no fluxo da maré. E o seu peixe, tal como o pensamento, não fisgava.

Não era a pesca em si que o trazia ali. Ali onde os peixes não eram presas porque não se caçavam, apenas desistiam da vida e, num último gesto altruísta para com o pescador e o seu balde plástico, engoliam o anzol. E não prestavam para mais que isso. O que o trazia à beira-rio era a justificação do tempo para si. Vou pescar! – dizia. E assim todos sabiam que iria estar sozinho e não o incomodariam. Se fosse fazer nada, o que diria aos outros? Poucos entendem o que é fazer nada. Especialmente se se faz nada sozinho. E isto pese embora o facto de existirem coisas que todos fazemos apenas para conseguir criar razões para realizarmos outras, as que não realizamos primariamente.

- Picou!- proferiu mais por instinto do que por reflexão consigo próprio. Picou o peixe e o tal pensamento que o tinha arrastado para lá em simultâneo. Agora tinha que retirar o anzol aos dois.

Na altura, tudo parece evidente, fácil, simples. Mas acontece que a força das idéias fraqueja com a análise do espírito. O próprio espírito tende a perder força quando sujeito ao tratamento do tempo. E tanto tempo que é uma noite...

E é por isso que agora, decorrida a noite, afoga-se o mesmo calor numa hierática caneca de cerveja que também sabe torturar sozinha, mas docemente. Para o Diabo com as ideias! Mais vale lançá-las de novo ao rio.

E assim foi!

Cais



E esse tempo em que te vais,

Como se fosse uma ausência de barco,
Tem o tamanho de todo o mar
Rindo do cais de onde nunca parto.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Re-Ler

Winston Churchill dizia que um homem caracterizava-se não pelo que lia, mas sim pelo que relia.
Agora que acabei de ler "O Último Papa" pela primeira vez (e chega), dei comigo a pensar que ando a precisar de reler mais umas coisas...

Finalmente, eis o Outono!

Finalmente um tempo assumido. É Outono!
Sou daqueles que vivia bem sem chuva, mas Diabo!, há um tempo para tudo e este misto de "Verão que nao acabou mas também não é grande coisa" já começava a fartar. Venha o tempo cinzento, a chuva, o vento que me balança a rede na varanda, os relâmpagos e os trovões!

Se há coisa boa é ver o ano a fluir. Sentir que o tempo, para além de medida física, é causa de mudança, de novas páginas. Eu, por mim, molho o dedo para virar esta. Aguardo pela que vem aí, mas de galochas e sobretudo!

Por outro lado, um tempo em que tanto faz sol num dia, como no outro chove infernalmente, como depois se torna num cinzento nostálgico e volta ao Sol, é tão estável como os desempenhos do Benfica, esse Glorioso. Tanto abocanha uns 4-0 em Leiria com bons golos, como se deixa empatar em casa, perder por não ter canetas para mais... ná...assim não vamos lá...

Em suma, da mesma forma que se cumprimenta o Verão, aqui estou eu para cumprimentar o Outono, esse catalisador de viagens interiores, maiores compras de bilhetes para o cinema, refúgio de centros comerciais para alguns e de mantas no sofá para outros. De peito aberto, "Venha ele!" que os da banda vê-lo-ão passar!

Boas nostalgias para todos vocês!

domingo, outubro 15, 2006

Despojos do Mar


Morre uma onda na praia,
Como um cadáver da espuma dos dias.
E uma pegada minha na areia desmaia
Num mar já morto de filosofias.

E enquanto uma onda não vem
Com orgulho morrer devagar,
Mais uma pegada na vida traço
Nas areias em que vou caminhar.

Do tempo que passa, a memória fica
Da espuma que fica, sente-se só o borbulhar
As conchas e as algas são a herança rica
Que ao desbarato se ganha nos despojos do mar.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Cabelos sem taxa moderadora

Porque é bom ver que há quem nos ponha a rir...e bem penteadinhos!
Pelo menos rir ainda não paga
taxa moderadora...por enquanto, geniais!

Insónia

Surge na noite longa sem aviso
Esta sensação cómoda de mal estar.
Uma suave gargalhada, pouco mais que um sorriso,
Que me impede de dormir para não ter de acordar.

Mexe-se e revira-se o meu corpo entorpecido
Pelo calor que libertam os lençois da mente.
Rasga-se e morde-se a pele do tecido
Que é a escuridão que para se ver não se sente.

E tanto tempo a pensar, tanta é a ansiedade
Morre a noite num beco,
Nasce de novo a cidade.

E quando acordo da noite que não dormi,
Visto-me e preparo mais um dia.
De tão pouco dormir nem vivi!

E olho nos olhos inchados
Que o espelho me devolve sem pressa
E só vejo os recados
Que ficaram por dar na véspera.

O pior nem é o cansaço que arrasa,
Nem a culpa de me sentir mal.
É saber que ao voltar para casa
A noite vai ser outro dia igual.

E o Óscar, perdão, o Tuga vai para...

E na lista para ver quem é o melhor tuga está: tchan, tchan...vejam...e estão abertas as apostas!
Mas ter na mesma lista o Durão Barroso, o Joaquim de Almeida, o D. João II ou o Salazar não antevê nada de bom...irra:)

quinta-feira, outubro 12, 2006

Há países assim, lembram-se?

Porque é bom acordar (no sentido lato da palavra) e relembrar que há países assim...
Obrigado Optimist por nos lembrares!

Sigo caminho

Sou a mala que vai a caminho.
Sou a nuvem que passa distante.
Escondo-me do sol cintilante,
Mostro-me onde estou sozinho.

Passo lesto e vou descontente
E, em fuga lenta, desapareço.
Sou uma pedra de arremesso
Contra a mentira de toda a gente.

Corro cego e vou em fugida.
Procuro o que já não existe.
Só a vontade persiste
De aqui ser minha despedida.

Assim me afasto e sigo caminho
Por atalhos que desconheço.
Nos trabalhos que a mim peço
Tento ver do que sou capaz.

Desfaço-me e aconteço,
Mato-me e adormeço,
Mas jamais volto atrás.

quarta-feira, outubro 11, 2006

São três na Perestroika!

E não é que hoje Portugal em formato Sub-21 bateu os "filhos de Putin" que nos tinham alambazado 4-1 na sua terra natal e conseguiu passar à fase final do Euro2007? Ah, Portugal, Portugal, quando tens gana até nos enganas!

Sabes, Sapiens?

É complicado viver numa sociedade que exige o direito de liberdade de expressão mas que abdica progressivamente do direito de liberdade de pensamento.

Olho em volta e vejo formatações. Matrizes solidificadas onde, pé ante pé, todos nos vamos tentando equilibrar, procurando não perder o equilíbrio nas dimensões que nos ensinam sem que aconteça o rasgo do pensamento que nos permite ver a matriz do lado de fora, como se fossemos o quadrado que Edwin Abbott anteviu em Flatland. Onde e como o conseguiremos, homo sapiens sapiens?

Somos anestesiados com publicidade e com programas televisivos de tragar pela boca e de digestão imediata.

Somos colapsados na amálgama que se move homogénea nos transportes públicos e nas artérias da cidade sincronizadamente para os relógios de ponto dos empregos determinados e rotineiros.

Somos endividados com o que nos impingem e pagamos com stress os juros elevados da modernidade.

Somos esmagados pelo peso da responsabilidade de se ser um bom cidadão, um bom pai, um bom amigo, um bom consumidor, um bom trabalhador, um bom empresário. E aliviados do peso de se ser simplesmente um bom ser humano.

O problema está em não sermos o que gostaríamos de ser, nem nos deixarem ser o que somos . Mas precisamos que nos deixem? Talvez não, talvez sim, talvez...sabes, Sapiens?

terça-feira, outubro 10, 2006

Bandeirolas em terras do "milhe frite"

Que uma manteiga de alho me caia na cabeça se a lolita não tem razão neste post. De facto, a política insular já começa (há muito tempo) a deixar a Paciência pouco paciente. E eu, que até gosto da ilha, acho que ela mereceria uma melhor imagem política.
Alguém que mande neste país: tire o Herman das noites de Domingo e meta lá o Alberto João para animar a malta. As barbaridades parecerão as mesmas mas, pelo menos, serão mais inócuas e ninguém as vê. Com a vantagem de o Herman talvez se decidir a reformar (que bem merece) ou a fazer sketch com os Gato Fedorento (que bem merecemos nós).
Sic transit glori mundi et Madeira!

segunda-feira, outubro 09, 2006

Verso-Reverso


É este poema verso-reverso
Que me apetece agora criar.
Uma linha-traquina, uma rima do avesso
Que rima o que não pode rimar.

Um poema arisco-visto,
Uma comichão de pele-vocabulário.
A irritação, insisto nisto,
É virtude maior do poema-abecedário.

Uma palavra que arranha-gadanha.
Morte vestida de pêlo e aço.
Mais que uma estrofe, uma façanha,
De criar o criado, um faço desfaço.

Um mexe que remexe e remói.
Um iletrado que cospe e esfaqueia.
Um inédito que só corrói
A cabeça dos outros, a quem remedeia.

E é por tudo isto que jamais desespero.
E é por nada disto que jamais tenho fé.
Este poema-palavra que em vão arremesso
Talvez mais não seja que um tiro no pé.

Pyongyang - tem som de ricochete de bala

E se houvesse petróleo na Coreia do Norte também se invadia? Talvez não...os coreanos são uns gajos mais lixados de levar no couro...e valem menos dólares!

Questões nocturnas sobre quando nada se Sonha


Qual a justificação quando nada se faz?
Qual o preço a pagar por se ser espectador do mundo?
A morte não será seguramente. Essa não é preço, é custo fixo de todos e para todos.
Será a vida? Ou, melhor dizendo, esse neoconceito de "estilo de vida"? É esse que justifica que se prescindam dos valores evidentes mas que se mantenham os considerados correctos?
O que faz com que até homens e mulheres inteligentes, poderosos e letrados virem a cara? Que adiem? Que não se aconteçam?
Tenho pena que este mundo humano se afaste tanto da nossa natureza que já nem nos reconheçamos quando olhamos ao espelho das nossas acções. Somos agora um compromisso, um tempo para a segurança, um cinzento. Somos a forma pálida do que fomos ainda há poucas gerações. Daqueles homens que tinham de fazer porque não tinham outra saída. Daqueles que, como se diz, foram heróis porque não tiveram tempo de fugir. Mas que foram!
Dos que arriscavam porque o risco valia a pena. E continua a valer, mesmo que sejamos ensinados a pensar que não. Queremos carros mais rápidos mas onde ninguém morra, comida farta mas sem nenhum lado negativo para as homeostasias corporais, férias distantes mas com as mesmas comodidades de ficar na nossa sala, aviões disponíveis mas sem acidentes, trabalho árduo e mal pago mas emprego garantido, sucesso na educação mas sem reprovações, vivemos sem paixão mas morremos cada vez mais tarde e todos os mais exemplos que fazem desta sociedade um óptimo sítio para se sobreviver, mas um local dificil para se sonhar.
Aqueles que tornam os seus sonhos impossíveis, terão de lidar com uma rotina inevitável.
E a rotina, meus caros, é o oposto de se ser humano!
Mas eu, que sei disto? E que justificação tenho para fazer tão pouco?

domingo, outubro 08, 2006

Onde está Deus?

"O céu profundo é, de todas as impressões visuais, a mais parecida com um sentimento."
Samuel Taylor Coleridge, Notebooks (1805)


Deixar que a escuridão me ilumine,
Sentir a brisa do silêncio...
Ah! Que felicidade estar neste estado sublime!

Mil olhos me fitam chispando fogo,
E o meu coração bate pelo calor mas sem resposta...
Não existirá uma voz que me responda?
De que serve a existência se ninguém se mostra?

E quantas vezes nesta multidão me sinto sozinho,
Me sinto desprezado pelo tempo que passa,
Esquecido até pelo caminho.

E quando olho para mim tenho umas saudades infinitas
Das mãos de criança que contavam as estrelas do céu
E em cada uma viam um Sonho,
Dos olhos maravilhados que se espantavam de brilhar.

Que necessidade apaixonada de olhar o céu nocturno
E de não perceber mas acreditar!

Revivalismo - Live Aid 85


Ontem o revivalismo atacou a minha residência. Não estivesse eu na companhia de amigos de infância que trouxeram a sua infância como companhia e temeria que o tempo tivesse mesmo andado para trás (aceito que estarei a ser hiperbólico...mas qual a piada de ter um blog se o nao puder ser, hein?).

Pois estivemos até horas infâmes da noite a (re)ver o Live Aid de 1985.

- Epá, vocês têm de ver o cabelo do Bono naquela altura!

- Nik Kershaw? Não se lembram do Nik Kershaw e o seu "Wouldn't it be good"?

- O Phil Collins é que vive. Foi o único que tocou em Wembley e Filadélfia. Voou de Concorde de um lado para o outro. (neste ponto, não deixa de ser engraçado pensar que hoje não seria possível isto..passados 21 anos. Volta Concorde, estás perdoado!)

- Não acredito que a Madonna está de sapatinho e meia branca de renda...

Não há grande lição neste post. Extingue-se mesmo na partilha dos cabelos desgrenhados, das cores digamos, hmm, variadas das roupas que marcaram os anos 80. Those were the days...ou talvez não!

O Tempo é que continua a passar sem respeito pelo ritmo a que as nossas memórias se mantêm...e a razão pela qual se realizou este concerto mantém-se actual, infelizmente sem ser memória.

sábado, outubro 07, 2006

Palavras, leva-as o vento

Que difíceis são as palavras!

Soam, mudas e caladas, a lamento.
Como surdas trovoadas de um mau tempo.
E são farpa e estigma, são estocada.
São verdade ou mentira, são nada.

E são tudo. Quando nem tudo convém.
Quando a voz é o que se pensa
E o que se pensa se diz a ninguém.

São versos, são prosa, são literatura.
São textos de pouca dura.
São frases com pouca sentença.
São ideias sem presença.
São sintomáticas dores da doença
Que ataca, sem licença,
Quem as guarda, quem as ouve,
Quem as viu, quem as não soube,
Quem as não quer, quem as não tem.

Que difíceis são as palavras,
Quando encontram o momento
Em que não se podem calar.
Quando são ditas a tempo,
E o vento não as pode levar.