domingo, novembro 26, 2006

Mário Cesariny (1923-2006)

O fio da vida resolveu quebrar-se.
Morres mas não desapareces. Páras mas não cessas.
Porque deixaste mais que palavras nos ventos do fim de Novembro.
Deixaste o teu ser e alma em forma de língua,
E verbos que faziam sem fazer e adjectivos que qualificavam sem julgar
São coisas que o peso da terra não apaga.

O fio da vida resolveu quebrar-se.
São efémeras as vontades das Parcas.
Seguram-nos para nos derrubar.
Derrubam-nos em lhes apetecendo.
É uma vida parca a que temos
É um tempo longo o que nos sobrevive
É um verbo infinito o que vamos lendo

Há fios que, em sendo quebrados, não se cortam.
Por não haver gume que lhes resista.
Por serem valiosos e feitos de nada.
Por serem além do tempo,
Além da vida,
Além do verbo.

O fio que és continuará e ainda corre

"Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco"*


Para sempre...

Obrigado, Mário Cesariny!

*poema de Mário Cesariny

9 comentários:

Etienne disse...

( Obrigado )...

Abraço.

Anónimo disse...

Linda homenagem a um dos homens mais interessantes do nosso país!! É uma pena partirem!!
Uma beijoca

Lyra disse...

"É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver ainda, mais nada."

Fernando Pessoa, no dia da sua morte.

A Vida mais não é que uma passagem efémera, qual estrela cadente riscando o céu. A diferença está naquelas cujo brilho, de tão intenso, se mantém por mais tempo... para além da fronteira entre a vida e a morte.

Um adeus sentido.

AGRIDOCE disse...

Um forte momento na nossa vida aconteceu.
Deixa-nos verbos, rimas e sentimentos
Que permanecerão em todos os momentos,
Porque de facto, ele, não morreu.

Obrigado Calvin, pela homenagem a esse expoente que "é" Mario Cesariny, e aos comentadores que me precedem, pelos comentários bem fortes que aqui trouxeram.

saca disse...

tambem gostava da sua obra,mas a vida é uma doença cronica que leva á morte a 100% dos casos.
um abraço forte.

Aninhas disse...

Olha só quem eu venho aqui encontrar...
Os meus amigaços saca e Agri!
Gostam do Calvin, não é??!?
Eu sou boa a tirar-lhes a pinta!
;-)

Sôr Calvin,
Na sua imensa sapiência, e já sei que vais ficar aflito com tal, então vais lá criticar a minha gramática e nem dizes o quê, onde como e quando??
E como é que eu sou suposta de aprender alguma coisa assim?

Ah, e o que me trouxe aqui.. está lindíssimo o teu "post"...

Rafeiro Perfumado disse...

Pela segunda e última vez este ano, fui desafiado para uma cena qualquer. Quis partilhar a minha imensa alegria contigo e como tal decidi passar-te o testemunho. Vai agora, e espalha a palavra do Rafeiro pela blogosfera!

PS: este texto não é só para ti. Vou fazer o belo do COPY-PASTE para os outros desafiados ou não me deitava hoje...

Um grande RAUF para ti!

Irritadinha disse...

Obrigada por ele belo poema, grande homem lamentavelmente já nos deixou são pessoas como ele que deviam ser imortais... Enfim.

Anónimo disse...

Bonito poema...
(sem pinta de ironia)