sexta-feira, outubro 27, 2006

Cry me a river


"Well, you can cry me a river
Cry me a river
Cause I cried, I cried
I cried a river over you "
Ella Fitzgerald

Nasce como uma toalha de água que pede para ser enxugada. Uma fonte de dentro que faz brotar o que não tem palavras para se chamar nem nome para ser dito. A um ritmo. Ao ritmo do compasso coronário. Ao compasso com que medimos a vida. A esse que, em acabando, acaba por acabar connosco.

Cresce e tempera-se de sal. Experimentando o tempero dos contornos com que vemos o mundo. Aprendendo a dor de seres tu. E de ser eu. E de ser o que tu te transformas em mim. Desfazendo os contornos. Refractando cores e envelhecendo numa catarata que tudo desfoca. Menos a alma.

Desiste e escorre. Rola pelo que se beija como se fosse destino. Desliza como dois braços caídos. Um de cada lado. Lado a lado. Enrolados, rolando a caminho do fim.

Saboreia-se na sua própria morte. Entre os lábios que deveriam ser cama e são terra. Terra salgada, agora. Terra árida onde nada crescerá, nem um sorriso. Nem um beijo. Nem nada.

Imagina-se como seria se tivesse nascido, crescido, desistido e sido saboreada como lágrima. Só que a imaginação não é fonte de água. E não sabe a sal, como o que deveria ter sabido. Porque não se consegue. Porque não está lá e o rio não corre. O rio nem se chora.

O rio é apenas uma seca linha solitária que não existe a dois. E é por isso que não corre. Nem por mim. Nem pelo que correu em ti.

5 comentários:

Sofia.S disse...

Eu adoro essa música... e cantada pela Diana Krall fica um espetáculo.

Bonito texto.
:)

Calvin disse...

Não podendo ser o original, e tb gostando da Diana Krall, eu prefiro a versão da Lisa Ekdahl:)

Obrigado pelo comentário e pelo seu blog...que tb inspira!

Anónimo disse...

Calvin!!! A imagem! Boa...
Ps - És um romântico...
(tal já é o meu trauma que agora passo quase todas as palavras pelo corrector ortográfico...)

Anónimo disse...

Hihihi... Pois o blog da Sofia deve inspirar qq visitante, gender - male, que o visite.
Acho muito bem!!!
Bem gender-male... ou female, ou hibridus...
lol! :-)

Touro Zentado disse...

Conheci a música pela voz da Lisa Ekdahl mas a versão da Julie London é simplesmente deliciosa!
Parabéns pelo blog!