segunda-feira, outubro 09, 2006

Verso-Reverso


É este poema verso-reverso
Que me apetece agora criar.
Uma linha-traquina, uma rima do avesso
Que rima o que não pode rimar.

Um poema arisco-visto,
Uma comichão de pele-vocabulário.
A irritação, insisto nisto,
É virtude maior do poema-abecedário.

Uma palavra que arranha-gadanha.
Morte vestida de pêlo e aço.
Mais que uma estrofe, uma façanha,
De criar o criado, um faço desfaço.

Um mexe que remexe e remói.
Um iletrado que cospe e esfaqueia.
Um inédito que só corrói
A cabeça dos outros, a quem remedeia.

E é por tudo isto que jamais desespero.
E é por nada disto que jamais tenho fé.
Este poema-palavra que em vão arremesso
Talvez mais não seja que um tiro no pé.

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