quinta-feira, outubro 26, 2006

O maior português

É verdade, Alice. Eu também vi isso!
Concordo que se deve discutir isso num espaço lúdico e lúcido. Afinal, é sempre complicado hierarquizar categorias diferentes. É misturar alhos com bugalhos!
Houve, contudo, um momento do debate que teve mais polémica e que gostaria de comentar. Aquele em que o Prof. José Hermano Saraiva saiu à defesa do nome de António Salazar. Mal se ouviu o que ele disse porque todos se juntaram para mostrar a sua indignação. Fica bem tornar visível a nossa indignação politicamente correcta, especialmente em prime-time! No entanto, se bem recordo o que ele disse, o seu depoimento cifrou-se por um cariz pessoal, dizendo que no trato pessoal, jamais tinha encontrado alguém tão sério e coerente como a pessoa de Salazar. E, sobre isto, apraz-me dizer o seguinte:
a) Sou demasiadamente adepto da liberdade e da independência para admirar alguém que encabeçou uma ditadura. Que isto fique claro sobre qualquer cabeça que tente colocar aqui uma simpatia salazarista na minha pessoa! Para mais, sou daqueles que nao tenho ídolos mas sim referências...e Salazar não é uma delas!
b) Admiro o valor da amizade. E, o que vi, foi alguém que preferiu dizer algo politicamente incorrecto, mas ficar de consciência limpa, do que silenciar-se enquanto o resto do auditório dizia o que já sabemos sobre a figura de Salazar, que era do seu conhecimento e simpatia pessoal. Não ganhou nada com isso. Mas disse-o, sem medo! E, na minha opinião, não ser neutro e silencioso quando a nossa consciência se incomoda é uma qualidade e uma prova de carácter. Porque para criticar o óbvio há sempre muitos...é quase osmótico...
c) Gosto de estar num país onde seja possível acontecer o programa de ontem. Com todas as barbaridades que tenham sido ditas...
Lembro-me que alguém disse um dia sobre Portugal que "nunca fomos muitos, mas quando soubemos ser Todos, fomos os bastantes." Acho que foi o Prof. Hermano Saraiva, mas não tenho a certeza! ;)
Talvez volte ao assunto da escolha de "Maior Português" mais tarde...
Viva Portugal!

7 comentários:

Anónimo disse...

Deixou marca... Vai ficar na História, a minha Osmose! Bem, minha ou da irritadinha.
Não me alongo mais, porque tenho um medo terrível do "corrector ortográfico" deste blog.
Tchuss

Irritadinha disse...

Ora biba! A explicação da importância do dia 27/10 já está em exposição na minha galeria de disparates :)
Bom é melhor optar pela divisão, na responsabilidade de a osmose ser aquela palavra que vai ficar na história da era blog.
Vamos à garrafa Don Perignon!

Irritadinha disse...

Ah e o link também já lá está...

Anónimo disse...

Calvin,

Tinha tanto para dizer, mas estou há tanto tempo a tentar entrar nesta maldita caixinha de comentários que já estou irritada por demais, pelo que vai telegráfico:

A amizade e/ou o respeito pelas pessoas deve manter-se enquanto as razões que fizeram com que essa amizade e/ou respeito continuarem a existir (independentemente de tudo o resto à nossa volta).

Se o Salazar nunca traiu o Hermano Saraiva, na convicção que ele tinha, de que estava a lidar com um homem honesto, então só lhe fica bem admiti-lo, mesmo que não seja politicamente correcto.

Atenção só para uma coisa. Já não é politicamente incorrecto defender o Salazar... (pensa nisso...).

Baralhando os conceitos, e utilizando-os conscientemente de forma leviana, estou a tentar fazer um juízo de facto e não um juízo de valores.

PS. Quando aqui cheguei e vi que havia um comentário (sem saber ainda de quem) apostei logo, logo que havia de ter alguma coisa a ver com o raio da osmose! (agora imagina ao tempo que aqui estou... quando a caixa abriu já lá estavam dois comentários!)

Brrrrrrrrrrrrrrrrr

Calvin disse...

Alice,
Acho que só discordamos da parte do politicamente correcto. Quanto ao resto, os amigos são aqueles com que contamos, mesmo quando estamos errados...e foi isso que me pareceu bonito!
Digamos que me apeteceu enaltecer mais o gesto humano que o político;)

PS: Vê lá que bicho mordeu esse computador...a caixinha dos comentários funciona bem...entra-se cá como se fosse por osmose...sem esforço:)

Anónimo disse...

Acho muito bem que tenhas enaltecido o gesto humano. Quanto a isso, completamente de acordo!

Além disso, e ideologias à parte (que as dele são diferentes das minhas), o Hermano Saraiva é irresistível em muitos aspectos!

Também achei interessante que tivesse, publicamente, desvalorizado a actuação heróica do Aristides de Sousa Mendes (que, segundo alguns, não só continuou sempre a receber o equivalente ao seu vencimento, como foi retirado das suas funções, não por ajudar os judeus a fugir, mas por lhes estar a cobrar por fora, quando tinha ordens expressas, do próprio Salazar, para que a fuga fosse possibilitada a título gratuito).

Não sei qual é a verdade "mais verdadeira" (nunca aprofundei os meus conhecimentos sobre o assunto), mas também te digo que acusar o Aristides de Sousa Mendes é, actualmente, muito mais politicamente incorrecto que defender o Salazar (e, o Hermano Saraiva acabou por ser politicamente incorrecto ao defender, indirectamente, o Salazar através do ataque ao Aristides de Sousa Mendes).

Rodrigo Costa disse...

Se é possível ter simpatia pela caterva de aldrabões que vêm, desde do Abril-defunto, dirigindo os destinos deste País como barco sem corrente, por quê não ter em conta um indivíduo -Salazar, no caso- que morreu sem possuir grandes contas?...

Que foi ditador?!... Que outra figura, em termos de teimosia ou incoerência -como quiserem chamar-lhe- se lhe compara? Portugal, dos últimos cinquenta anos, políticamente falando, só tem duas figuras: Salazar e Cunhal. Indissociáveis. Opostos e paralelos, por ambos terminarem idealistas e "tesos" -há erros e pecados, mas só os últimos são cometidos pelos que não crêem-. É nestes, nos crentes, que, sozinhos, se concentra toda a contradição de sentimentos, porque são homens de carisma. Quixotes, acredito, mas entre Panças que a história não assume ou assume timidamente, por serem homenzinhos frágeis, ditadores cobardemente dissimulados em grupos e que sucumbem à sombra do burro.

Onde estão os que grasnaram contra o obscurantismo e a intolerância? Se virmos, todos deram um passinho, pelo menos, à direita. Há um que abandonou o Governo, continuando o percurso desde o MRPP até à Comissão Europeia. Que homens são estes? Aspirantes a que figuras?

Salazar e Cunhal foram inteiros, desde a adolescência, a idade onde florescem todas as inconsequências; onde poucas maturidades se revelam, por pertencer ao tempo de se ser tonto.

Quanto ao resto, qualquer ideologia me serve, que o problema está em quem as interpreta, e o Humano, em si, poderia ser réptil.