quarta-feira, outubro 11, 2006

Sabes, Sapiens?

É complicado viver numa sociedade que exige o direito de liberdade de expressão mas que abdica progressivamente do direito de liberdade de pensamento.

Olho em volta e vejo formatações. Matrizes solidificadas onde, pé ante pé, todos nos vamos tentando equilibrar, procurando não perder o equilíbrio nas dimensões que nos ensinam sem que aconteça o rasgo do pensamento que nos permite ver a matriz do lado de fora, como se fossemos o quadrado que Edwin Abbott anteviu em Flatland. Onde e como o conseguiremos, homo sapiens sapiens?

Somos anestesiados com publicidade e com programas televisivos de tragar pela boca e de digestão imediata.

Somos colapsados na amálgama que se move homogénea nos transportes públicos e nas artérias da cidade sincronizadamente para os relógios de ponto dos empregos determinados e rotineiros.

Somos endividados com o que nos impingem e pagamos com stress os juros elevados da modernidade.

Somos esmagados pelo peso da responsabilidade de se ser um bom cidadão, um bom pai, um bom amigo, um bom consumidor, um bom trabalhador, um bom empresário. E aliviados do peso de se ser simplesmente um bom ser humano.

O problema está em não sermos o que gostaríamos de ser, nem nos deixarem ser o que somos . Mas precisamos que nos deixem? Talvez não, talvez sim, talvez...sabes, Sapiens?

5 comentários:

souvant disse...

E que tal tentar arranjar um equilíbrio?

Sermos nós mesmos, humanos, e, ao mesmo tempo, sermos as máquinas formatadas que nos é imposto.

Não nos podemos excluir, nem deixar-nos absorver por esta máquina infernal chamada "sociedade".

Viva a DIFERENÇA.

Calvin disse...

Caro Souvant, lembrei-me de uma citação do George Bernard Shaw que dizia qq coisa como:"Os homens razoáveis adaptam-se ao mundo, os nao razoáveis fazem com que o mundo se adapte a eles. Por isso, apenas os homens não razoáveis contribuem para o progresso das sociedades";)

Anónimo disse...

E não te lembras da citação do W. Churchill que dizia "It's not enough that we do our best; sometimes we have to do what's required."?

Anónimo disse...

Parece-me que, com o estado a que isto chegou, o que há mais para aí são homens não razoáveis (que fazem com que o mundo se adapte a eles e nos aliviam, porque se aliviam, do peso de serem bons seres humanos).

Não me parece que dessa citação possa resultar algo de bom para o ser humano.

É uma questão de lógica, se são os não razoáveis que contribuem para o progresso e o progresso nos trouxe até aqui, o que falta ao mundo são homens razoáveis!

Calvin disse...

Mas por vezes, o ser razoável é ser comodista, que é o mais ponderado. E a não-acção é tão ou mais prejudicial que a acção. É neste sentido que usei o termo razoável...pronto, razoavelzinho:)